sábado, 14 de janeiro de 2023

GIRO PELO VALE - Morre Frei Chico e o Vale do Jequi fica de luto

Foto: Omar Abrão

Franciscus Henricus van der Poel l (Frei Chico), nascido em Zoeterwoude na Holanda, no dia 03/08/1940. Membro da Ordem dos Frades Menores desde 1960, Chega ao Brasil em 17/11/1967, Tornando-se  (sacerdote católico) franciscano da Província da Santa Cruz (PSC), com sede em Belo Horizonte MG..

Chega no Vale do Jequitinhonha em 1968 para a Diocese de Araçuaí. Em 1969, assume a Paróquia de Santo Antonio em Itinga, substituindo o na época ainda padre Enzo, mesmo ficando em Araçuaí em Itinga, foi responsável pela paróquia de Itinga até 1977. Assim escreveu Frei Chico no livro de registro da paróquia  Santo Antonio de Itinga em 1976.

 

“ Foi durante uma semana santa em Itinga que cresceu meu amor pela religiosidade popular, cujo estudo hoje ocupa mais da metade do meu tempo. Como é  admirável a fé de nosso povo rural e como é rica sua expressão . Aqui vemos como nosso povo do Vale do Jequitinhonha se identifica com o Cristo que sofreu”

 

Pesquisador da cultura popular, durante os 10 anos que morou no Vale do Jequitinhonha, na diocese de Araçuaí MG., anotou  parte da cultura popular em 15 mil folhas e gravando 250 fitas K7. diz  Frei Chico  -  “Nesta empreitada, fui ajudado pela artesã Maria Lira Marques. Percebemos que da rica cultura dos pobres registramos apenas uma pequena parte. Em 1970 fundei o coral Trovadores do Vale no qual pessoas pobres do Vale cantam músicas da sua própria cultura. O repertório deste coral é um dos frutos da pesquisa realizada”.

A partir de 1978, Frei Chico vai  morar em  Betim MG, e no qual foi  liberado para a pesquisar a promoção da cultura popular, como ele mesmo dizia:  “Dediquei-me especialmente às culturas religiosas existentes no Brasil. Tive correspondência com Luís da Câmara Cascudo, com Mário de Souto Maior e alguns outros grandes folcloristas. Os antropólogos Carlos Rodrigues Brandão, Lélia Coelho Frota ajudaram-me a situar minhas pesquisas conjunto mais amplo da cultura nacional. Frequentei terreiros, santuários de romaria. Participei de muitas festas, entrevistei lideranças populares.  Durante 16 anos morei na Colônia de Santa Isabel (Betim), onde escrevi a maior parte do Dicionário da Religiosidade Popular. Lá também era regente do coral de hansenianos curados e outros em tratamento. Quem não convive com pobres e marginalizados, não tem o direito de falar em nome deles. Nas comunidades populares observa-se a não separação entre vida e religião. Fiz conferências em muitas universidades, participei de congressos, acompanho movimentos populares. Tenho muitos artigos publicados em revistas especializadas. Possuo também um extenso currículo artístico musical, com apresentações em praças e ruas, teatros, rádio e TV”.

Autor de diversos livros  obre cultura e religiosidade popular, por exemplo o mais recente,  Dicionário da Religiosidade Popular, 2013, 1150 p. Membro da Comissão Mineira de Folclore (1981), do Instituto Histórico e Geográfico de MG (1990). Conselheiro do Centro da Memória da Medicina da UFMG, docente no Instituto C. G. Jung de MG e palestrante na Secretaria Municipal do Meio Ambiente (BH). Músico da OMB, palhaço do “Pano de Roda” (BH). Presença em movimentos populares (folias, congados e terreiros afro-brasileiros), no meio artístico (música e teatro) e na mídia. Conferências em muitas universidades e congressos. Frei Chico também participou da edição do livro "Um olhar sobre o Congado das Minas Gerais, de autoria da Professora da UEMG, Cris Nery, escrevendo o texto "Congado: origens e identidade".

 

Hoje 14 de janeiro de 2023, Frei Chico deixe esse plano terreno, para viver a plenitude da vida espiritual,  religioso, pesquisador, defensor da cultura  e religiosidade popular, de modo especial a do Vale do Jequitinhonha. 

Nos filhos do Jequitinhonha perdemos alguém que apesar de ter nascido  tão longe, escolheu nosso pais e nosso  Vale do Jequitinhonha como seu lar. Seu corpo descansará no cemitério da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos de Araçuaí , seu espírito será guiado por Nossa Senhora do Rosário  ao encontro do pai para sua morada eterna.

A nos fica o legado do amigo, do pesquisador e do  Frei Franciscano que dedicou sua vida em registrar , respeitar e divulgar para todo a nossa religiosidade e cultura popular .

A família e amigos pedimos ao pai o conforto necessário....

Vai na luz Frei Chico e muito obrigado por tudo.

 

Jô Pinto,

Iitnga/MG, em um dia triste de Janeiro de 2023.

 

 Pesquisa

 www.religiosidadepopular.uaivip.com.br

PINTO. José Claudionor dos Santos. Memórias de Itinga,  Centro Cultural Escrava Feliciana. 2009

currículo: http: lattes.cnpq.br/8705942860002739. 

 


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