Sabiá laranjeira - imagem internet |
Outro dia, ouvindo a música “Majestade
sabiá” de Jair Rodrigues, fui levada de volta ao final dos anos 1980 e início
da década de 1990, quando morava na região rural de Bocaiúva, vale do
Jequitinhonha. De manhã cedinho, D. Maria, minha mãe começava a se movimentar
pela casa, especialmente na cozinha, acendendo o fogão a lenha e dando início
aos afazeres do dia, logo o cheiro de café quente subia, porém, antes de tudo
ela ligava o radinho de pilhas e ouvia o bom dia dos locutores seguido das
modas de viola. Majestade sabiá, era interpretada por Roberta Miranda e
Chitãozinho e Xororó. Minha mãe amava cantar, sua voz enchia os ares junto com
o aroma do café, ali mesmo plantado, colhido, torrado e moído. Essa música,
além de ativar memórias saudosas de minha mãe, da minha infância no campo, fala
sobre o potencial da memória em nos levar outros tempos e lugares. O eu poético
diz: “meu pensamento toma formas eu viajo, vou pra onde deus quiser” e “estou
indo agora pra um lugar todinho meu, quero uma rede preguiçosa pra deitar, em
minha volta sinfonia de pardais, cantando para a majestade o sabiá”. Tudo que
narra é maravilhoso, o adentrar a floresta, o cantar dos pássaros, o descanso
na rede. Porém, todo esse universo está guardado dentro de si mesmo, a partir
do mecanismo de rememorar, relembrar: “ o meu eu, este tão desconhecido, que
jamais serei traído, pois este mundo sou eu”. Me fascina a memória e sua
capacidade de nos presentear com o que já vivemos e perdemos, como o corpo
guarda um universo de lembranças que são ativadas quando ouvimos uma canção,
sentimos um cheiro, experimentamos uma sensação. Nosso corpo é onde estamos no
mundo, é através dele que nos situamos. Assim, toda vez que ouço Majestade
sabiá, volto no tempo e revivo momentos que jamais serão esquecidos, pois fazem
parte do que sou. Se atentem às formas como as memórias são ativadas, como as
experiências sensoriais do presente promovem a rememoração do passado e
aproveitem conscientemente desse potente recurso corpo.
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