“Na primeira noite eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim e não dizemos nada. Na segunda noite já não se escondem, pisam nas flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E não dissemos nada, já não podemos dizer nada.”
(Eduardo Alves Costa – Jornal Geraes – Ano I – Número 0 – Vale do Jequitinhonha – março de 1978)
Lançado em 2011, o livro Geraes: a realidade do Jequitinhonha é a reprodução dos fascículos do periódico Jornal Geraes publicados entre os anos de 1978 e 1985. Esse noticiário que pairava pelo vale tem e terá uma enorme importância para a formação cultural de nossa região, sobretudo pelas escritas denunciantes da época.
Organizado por Aurélio Silby, George Abner e Tadeu Martins, foi lançado pela NEOPLAN e conta com 224 páginas. Ao folear cada página do livro, podemos nos deparar como que se sucedia toda e qualquer forma de opressão aos povos do Jequitinhonha, sobretudo os mais marginalizados e que viviam em situações muito difíceis por conta da falta de políticas que amenizassem as “dores” do povo sofrido naquela época. O jornal
“Geraes, foi um sonho coletivo que se fez realidade no mês de março de 1978. No Vale, os políticos corruptos e os remanescentes dos coronéis representavam o poder, enquanto no Brasil, a ditadura militar semeava o medo na sociedade, através dos sucessivos governos repressivos”. (Martins et al, 2011, pág. 05)
Como Cláudio Bento menciona, esse jornal ia “na contramão do poder” além disso, ao passar cada página podemos ler as revelações sobre os mais diversos tipos de acontecimentos contrários à população do Jequitinhonha, “a luta para sobreviver no campo”, “a questão da terra”, “a situação do ensino”, “a vida política do Vale”, dentre outras notícias, que em forma de entrevistas, charges, ‘o leitor escreve’, editoriais, questões agrárias, e outras, se faziam verdades insurgentes na nossa região.
O Geraes era um jornal muito amplo e diverso e me faz embarcar em uma longa viagem no tempo, pois quando esse jornal era publicado, eu não era nascida ainda. Agradeço fielmente a quem tem um fio de ligação com a construção desse grande registro histórico de nossa região, pelas denúncias em uma época em que se pagava com a vida por expressar suas visões contrárias ao sistema.
Através do jornal Geraes que foi originado o Festivale (Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha), pois em 1979, o jornal promoveu um encontro de compositores e devido ao sucesso, essa atração foi levada para diferentes cidades. “O sucesso foi tamanho que o jornal resolveu realizar um "Festival de Música Popular do Vale", simplificado para FESTIVALE, que aconteceu, em Itaobim, nos dias 25, 26 e 27 de julho de 1980”. (PINTO, 2018).
Viva a escrita resistente do Vale do Jequitinhonha!
Referências:
Geraes: a realidade do Jequitinhonha / Organizado por Aurélio Silby, George Abner e Tadeu Martins – Belo Horizonte: NEOPLAN, 2011. 224 p.: il; 29 cm.
PINTO, Jô. FESTIVALE: Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha. fecaje.org.br, 2018. Disponível em: <https://www.fecaje.org.br/festivale>. Acesso em: 06 set. 2022.
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