quinta-feira, 20 de maio de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Entrevista com o escritor Jota Neris

 


Sobre Jota

É professor, membro da Academia Conquistense de Letras (Vitória da Conquista/BA), graduado em Normal Superior e Letras com pós-graduação em gestão Educacional. Com o seu jeito apaixonado de falar dos costumes e a linguagem do povo da roça, tem seus poemas publicados em várias revistas e jornais brasileiros e em alguns livros, além de inúmeros trabalhos em coletâneas e antologias literárias.



Diário de Leitura – Jota, você é natural da cidade de Aracatu – BA, em 1994 passa a morar em Mata Verde, cidade do Vale do Jequitinhonha mineiro. Como foi para você esse processo de mudança de estado? O Vale do Jequitinhonha, mesmo estando localizado próximo da Bahia e sendo muito influenciado por ela, te trouxe uma realidade muito diferente da sua terra natal?

Poetizar é desenlear os nós que estão atados dentro de nós. (Jota Neris)

Jota Neris - Me mudei para Mata Verde a convite da minha noiva, Alice (hoje esposa) para lecionar em uma das escolas que atuo até hoje. O Vale do Jequitinhonha, de maneira geral, apresenta características muito parecidas com as do sertão baiano, mas Mata Verde é diferenciada pelo clima frio e as frequentes chuvas.

Diário de Leitura – Desde criança você tem contato com a poesia. Qual o lugar que a poesia ocupa em sua vida? Como ela contribuiu com a sua formação, com o seu jeito de ser?

Jota Neris - A Poesia sempre ocupou um lugar especial no meu coração, pois ela me faz ver os dias com os olhos mais atentos para as coisas simples, que para mim são muito mais marcantes e significativas. Ela continua sendo um fator decisivo na minha formação de ser humano e poeta inacabado. Aproveito para parafrasear Érico Veríssimo, que diz: “Eu não saberia viver num mundo onde não houvesse a música e a poesia”.

Diário de Leitura - Além de escrever, você chama a atenção com a sua maneira bem peculiar de interpretar os próprios poemas, uma característica que te faz um dos poetas mais reconhecidos de nossa região, como você desenvolveu essa veia artística de intérprete e exímio contador de causos?

Jota Neris - Me sinto lisonjeado com esse comentário, mas da mesma forma que escrevo, procuro interpretar o poema da maneira mais simples e natural possível. Minha poesia é inspirada na vida cotidiana, nas labutas e falas corriqueiras. Nunca participei de oficinas de teatro nem de cursos de interpretação poética, apenas procuro externar em gestos e palavras, sentimentos que originam da alma.  

Diário de Leitura – Você trabalha como professor, nas escolas de Mata Verde, a poesia se faz presente de alguma forma? Percebe algum tipo de preocupação com a valorização da produção literária local dentro do ambiente escolar?

Jota Neris - A poesia está sempre presente no meu jeito de falar e viver. Vira e mexe os alunos me pedem para contar um causo. Sinto grande felicidade quando ouço que muitos tecem suas produções inspirados pelos meus poemas.

Diário de Leitura – Com várias publicações em jornais, revistas e livros, qual a sensação de ver o seu trabalho chegando a novos lugares, alcançando outras pessoas?

Jota Neris - Dá um sentimento bom de realização.Não uma realização de fim, de acabamento, mas de saber que sou um ramo vivo, que não copio nem imito ninguém, mas sou a continuação de muita gente que de alguma forma plantou a semente da arte em mim e essa semente vai seguindo, abrindo novos caminhos, germinando em corações que muitas vezes nem conheço conscientemente.

Diário de Leitura – Quando você começou a fazer parte do coletivo de escritores do Vale do Jequitinhonha? O que este coletivo já te proporcionou e proporciona?

Jota Neris - Se não me engano, minha primeira participação fisicamente foi no segundo encontro, na cidade de Jequitinhonha. Esse coletivo me deixa muito feliz em vez sonhos sendo socializados e concretizados com muita gente bebendo da mesma fonte e comungando do mesmo pão.

Diário de Leitura – Qual a sua visão sobre a produção literária no Vale do Jequitinhonha atualmente?

Jota Neris - É uma produção de resistência e teimosia que está boa, mas precisa avançar e alçar voos mais altos. Mesmo neste momento de pandemia, carece de uma divulgação maior com ações que envolvam prefeituras, secretarias de cultura e educação para ajudar a dar mais vida na literatura valina, transformando muitos “escritores de gaveta” em escritores do povo.

Diário de Leitura – Tivemos informações de que você pretende lançar um DVD de poesias, poderia nos dizer como será este projeto?

Jota Neris - Trata-se deuma coletânea com 18 poemas autorais, onde escolhi três amigos para apresentarem três textos: Peca (Almenara), Nando Gomes (Divisópolis) e minha filha Ana Cândida (hoje em Salvador) com o poema “Xodozado” que ela apresentou no Festivale de Araçuaí, 2006, conquistando o 1º lugar e melhor intérprete.Os outros quinze são declamados por mim.A gravação já está concluída, faltando apenas alguns detalhes da equipe de edição para o lançamento. 

Diário de Leitura – Dentro do universo literário, qual o maior sonho que ainda pretende realizar?

Jota Neris - Tenho alguns livros em prosa que pretendo concluir e publicar. Além disso, sonho com políticas públicas voltadas para o desenvolvimento cultural e, numa ação coletiva, juntamente com outras pessoas que divulgam e incentivam a literatura do Vale do Jequitinhonha, consigamos incentivar muitos poetas a divulgarem suas produções.

Diário de Leitura – Para finalizar, deixamos o espaço livre para fazer algum comentário ou acrescentar qualquer informação que julgue necessário.

Jota Neris - Não vou citar nomes para não ser injusto e esquecer algum, pois conheço muita gente boa que ama e divulga com muito carinho a Arte Valina, mas quero exortar nomes de muitos agentes culturais que não medem esforços para levantar a bandeira da cultura do Vale do Jequitinhonha. Sou baiano, nordestino com muito orgulho e sinto um prazer imensurável em morar em Minas Gerais no seu melhor lado, onde as coisas se misturam e as pontas se encaixam como num abraço íntimo. Um beijo baiano em Minas e vice-versa me fazendo sentir duplamente nordestino, apaixonado pela vida. Eitanóis!

Ter tempo para apreciar um poema é ter tempo para viver. (Jota Neris)


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