“ A leitora
",
óleo sobre tela de Auguste Renoir, 1875
E não desejo que as mulheres tenham
poder sobre os homens, e sim sobre elas mesmas.
Mary Wollstonecraft
Escrevo quando e
porque sou mulher. Agora porque posso, hoje porque preciso. A literatura de
autoria feminina é um assunto que me buscou. Não sei se ler e escrever sobre o
feminismo me fez notar com mais clareza os machismos nossos de cada dia.
Inclusive os meus. Mas sei, sem dúvida, que me torna uma mulher nova, mais
minha, mais toda, mais conjunta, mais d’outra.
É preciso
compreender o processo histórico que trouxe a mulher até aqui. A produção
literária está atrelada ao complexo caminho de ser mulher num mundo de
patriarcado, num cenário em que, há nem tantos anos assim, as mulheres sequer
tinham o direito de ler. As mulheres foram silenciadas e diminuídas por anos, e
isso não seria diferente num espaço que se baseia em se expressar.
Em toda a história, a exclusão das mulheres
sempre foi amplamente semeada, tanto nos direitos básicos que lhes eram
negados, como ao voto e escolha de matrimônio, quanto na questão da
alfabetização e do estudo, restringindo-as apenas à vida familiar. Em relação à
escrita, a atividade possuía apenas fins de etiqueta, sendo incentivada somente
entre mulheres da elite. Revela-se, então, o desnivelamento entre a literatura escrita por
mulheres e a escrita por homens — enquanto estes majoritariamente conseguiam
escrever e publicar suas obras, a elas isso era negado e, muitas vezes, até
proibido. Com isso, o isolamento sistemático das suas obras do cânone literário
é regra, apenas com raras exceções. (Capelli
et al, 2018, p. __)
Estar à frente
do Movimento dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha trouxe situações
que me alertaram a problematizar o universo literário: a pouca
representatividade das mulheres nos encontros e nas obras de nosso acervo. Só
depois de conhecer um pouco da história é possível perceber porque não temos
numerosas referências femininas na literatura nacional, porque nenhuma mulher
foi homenageada na Noite Literária do FESTIVALE.
Constância
Duarte (2003) mostra que grande causa do desconhecimento e do preconceito com o
feminismo passa pelo fato de que ele seja pouco contado. Mas eu não estaria
agora escrevendo esse texto, não fosse por aquelas que antes de mim lutaram por
direitos nossos. Buscar conhecer é uma opção que nos aparta da limitação de
pensamento, do achismo e do preconceito.
Felizmente o
caminho percorrido permite que hoje as mulheres já possam falar de si, e não
mais como o ‘não homem’, mas como um ser, humano, próprio, com suas angústias,
lutas e alegrias. A realidade da mulher começa a mudar na medida em que elas
procuram voz, ao reivindicar direitos à educação, à cidadania, à livre
expressão. A literatura é um desses
espaços em que a luta se faz possível e presente.
REFERÊNCIAS
Capelli, Anna; BARREIROS, Isabela; OKIDA, Laura; BALDOCCHI, Marina Baldocchi. Onde estão as Clarices? mulheres na literatura brasileira. Faculdade Cásper Líbero. Jul /2018.
DUARTE,
Constância Lima. Feminismo e literatura no Brasil. Estud. av., São Paulo, v. 17, n. 49, p.
151-172, Dec. 2003 .
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Agenda
O projeto Leia Mulheres de
Araçuaí esse mês discute a obra Éramos Felizes, de Eliane Rocha, uma itinguense
que discute questões ligadas à felicidade, ao amor e à superação de nossas
perdas. Dia 2 de março, às 19h, via
google meet.
Baixe o livro aqui: https://www.blogdeherena.com/copia-a-morte-nossa-de-cada-dia
Interessados em participar podem enviar mensagem para herenabarcelos@gmail.com
Por
Ser mulher de pés firmes. Que abre caminhos como Clarice Lispector e que finca raiz como Herena Barcelos. Que alegria poder degustar cada ideia derramada nas páginas em branco dos caminhos a serem construídos.
ResponderExcluirQuem escreveu esse trem bonito?
ExcluirParabéns Herena! Tenho certeza que você é uma grande inspiração para muitas mulheres em nossa região. 🥰
ResponderExcluir👏👏👏👏👏👏👏👏
É tão bonito (e estimulante) identificar essa potência que nos acompanha, enquanto mulheres, se manifestar em suas palavras, com jeito muito seu, autêntico. E igualmente belos a sua reverência e respeito àquelas que abriram os caminhos. <3
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