terça-feira, 5 de outubro de 2021

O ASSUNTO É? - “A cor da ternura” de Geni Guimarães

 

Imagens internet

Na semana passada, li o livro “A cor da ternura”, da escritora Geni Guimarães. Ainda não a conhecia, apesar de que, há algum tempo, priorizo livros escritos por mulheres e nos últimos anos dou primazia aos escritos das mulheres negras. Tal opção tem como objetivo preencher uma lacuna na minha formação enquanto leitora, num país em que racismo e sexismo se interseccionam, fazendo com que as produções culturais e acadêmicas das pessoas negras, em especial das mulheres negras sejam invisibilizadas. Tal apagamento se insere num conjunto de práticas que constituem o epistemicídio, o aniquilamento físico e intelectual do povo negro, para favorecer o grupo racial dominante, conforme define Sueli Carneiro em sua tese de doutorado. Entretanto, ainda não havia ouvido falar de Geni Guimarães, mesmo que seu livro “A cor da ternura” tenha sido laureado com o prêmio Jabuti, importante reconhecimento, além de outros prêmios. Geni Guimarães nasceu em 1947 no Estado de SP e publicou seu primeiro livro de poemas, “Terceiro filho”, em 1979. A autora tem vasta produção, bem como uma trajetória ligada à luta contra o racismo e em favor do povo negro. Mas aqui quero falar sobre  minha experiência de leitura do livro “A cor da ternura”. O que me conectou ao texto logo no início da leitura foi a relação da protagonista com a mãe, aspecto que permeia o texto com muita sensibilidade e carinho, remetendo-me à minha própria infância e ao apego que tinha com minha falecida mãe. A escrita é fluída e de fácil compreensão, porém tais características não deixam o texto superficial, pelo contrário, são muitas as camadas de sentidos, sem falar na narrativa poética que ela tece. Fiquei encantada com a forma como Geni Guimarães construiu uma perspectiva infantil das desigualdades raciais, mas sem ignorar aspectos, como a simplicidade e a inocência da infância. A trama caracterizada como escrevivência mostra a trajetória da jovem professora negra desde a infância, as relações familiares, a chegada de mais um irmão, o ingresso na escola e a forma como o racismo está presente naquele universo, afetando a subjetividade da  narradora. Não vou dizer mais sobre o livro, para não atrapalhar a leitura que vocês certamente farão. Enquanto isso buscarei, sem mais perda de tempo, conhecer os demais livros dessa importante escritora  brasileira,  cuja escrita quebra o racismo, como ela mesma disse na 7ª edição da  Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa: “Está tudo contra nós, mas nós estamos a favor (...). Com as nossas histórias estamos construindo a verdadeira abolição.”


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2 comentários:

  1. Uau. Amei. Quero ler. Já tinha escutado o nome da obra e da autora, mas não conhecia a sinopse. Parabéns por conseguir fazer a resenha, sem deixar "spoilers".

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  2. Obrigada Thaisa, vale a pena ler. Geni é maravilhosa!

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