terça-feira, 14 de setembro de 2021

O ASSUNTO -E - A infância


Criança comunidade Quilombola Córrego Narcisio/Araçuaí-MG

“Pra entender o erê, tem que tá moleque”. O que essa frase diz? À primeira vista, parece apenas um trecho de uma canção, porém, traz profunda reflexão. Primeiro, é importante saber que  Erê[1], na música,  é entendido como a criança.

Criança comunidade Quilombola
Córrego Narcisio/Araçuaí-MG

Há uma radical alteridade entre o mundo adulto e o infantil. A infância é uma dimensão da vida totalmente diverso da fase adulta. Para buscar compreender esse universo é preciso se colocar à altura da criança, exercitar a empatia, buscar relembrar a criança que você foi. Há uma tradição consolidada de se educar os pequenos com agressividade, com surras, violência psicológica, brutalidade. São práticas tão arraigadas que quando as questionamos somos repelidas/os com veemência. Dizem que a verdadeira educação se faz dessa forma. Será? A infância é um período da vida que necessita do amparo e cuidado. Os pequenos são frágeis fisicamente em relação aos já crescidos. Assim, é absurdo e desproporcional que um adulto bata numa criança. Deveria ser algo digno de vergonha.  As crianças não aprendem a serem boas pessoas com safanões, com beliscões e com pancadas, como é comumente defendido por muitos/as. Dados de pesquisa da Sociedade Brasileira de Pediatria mostram que cerca de 2.083 crianças foram mortas por agressão no Brasil entre 2010 e 2020, sendo que 80% desses ataques partiram de pais, mães ou outros/as “responsáveis”. A agressão e violência sofridas na infância, quando não mata o corpo, mata a alma. Tanto abuso repercute negativamente na idade adulta, sendo responsável por formar pessoas inseguras, com baixa autoestima, fragilizadas e até mesmo reprodutoras de violência. Muitos reproduzem tal padrão de “educação” sem refletir sobre seus efeitos nocivos. Respeito não se conquista através da imposição do medo. Será que queremos as futuras gerações com autonomia para protestar contra as injustiças ou apenas pessoas atemorizadas que obedecem a ordens sem questionamento? Acredito que para além do dever de respeitar e amar as crianças, devemos aprender com elas a paixão pela descoberta, a olhar o mundo com encantamento, nos colocarmos à sua altura e observar o chão, as pequenas pedras, as labutas das formigas. Ao experimentar   olhar a partir do chão para o alto, a perspectiva muda, o olhar é ampliado. Da mesma forma, precisamos lançar o olhar sobre nossas certezas limitadas sobre educação e tantas outras questões.  



[1] O Erê, no Candomblé,  é a energia do Orixá, em Iorubá significa brincar, por isso é associado aos Ibêjis, que são as crianças. Fonte: Fernando D’Osogiyan 


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