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Duas crianças, dois Ibejis. Por todo o Brasil, no dia 27 de
Setembro, comemora-se o dia de Cosme e Damião, santos populares muito cultuados. Cosme e
Damião teriam sido dois irmãos gêmeos médicos que atuavam na região da Ásia
Menor, nos primórdios do Cristianismo. Atendiam crianças sem cobrar e foram
mortos por um imperador romano, passando a ser considerados santos pela Igreja
Católica. Os africanos e africanas
escravizados/as e trazidos/as para estas terras em diáspora forçada eram
proibidos de praticarem suas tradições religiosas, por isso, sincretizaram nos
santos gêmeos católicos Cosme e Damião as entidades Ibejis representadas pelas
crianças gêmeas, Taiwo e Kehinde, muito alegres e auspiciosas da tradição Yorubá.
Dentre as várias histórias sobre os Ibejis, uma narra que, certa vez, faltou
água na região onde moravam, as plantações começaram a morrer, a tristeza tomou
conta de todos, ninguém conseguia encontrar água. As crianças gêmeas brincavam
de cavar no quintal, na verdade estavam procurando água. Tanto fizeram que
acabaram encontrando o precioso líquido, encheram cântaros, vasilhas diversas,
a população enfim conseguiu molhar as plantações, matar a sede da comunidade e
dos animais. A vida voltou a fluir com as águas. Desde então, os ibejis representam
fortuna, abundância e alegria. As
pessoas que são devotas costumam distribuir sacolinhas de doces para as
crianças. Lembro-me de que este dia era muito feliz na minha infância no início
da década de 1990, tempo de inflação alta, carestia e muitas famílias vivendo
em situação de miserabilidade. Uma das minhas tias residia na Vila atrás do
cemitério em Montes Claros, onde a gente ia com nossa mãe passar os finais de
semana. A comunidade era apelidada de favela e muito mal vista no entorno,
as crianças da Vila viviam revirando o
lixão atrás do cemitério, era muita vulnerabilidade social naquele lugar.
Próximo de lá, numa Chácara, havia uma casa de Umbanda, onde as crianças da
Vila iam participar da festa de Cosme e Damião e pegar as desejadas sacolinhas
no dia 27 de Setembro. Ao pegar os doces no dia de Cosme e Damião, os pequenos
sentiam-se confortados, era um sopro de esperança e atenção num cotidiano
marcado pela negligência. Ainda recordo do conteúdo: tinha Maria mole, um
pacotinho de pipoca doce, pirulitos, chicletes, balas, suspiros de morango e um
pedaço de banana. Se não me engano era o do terreiro de Chico Preto, célebre
pai de Santo de Montes Claros. A gente comia os doces com vontade e satisfação,
apesar das falas preconceituosas dos adultos que demonizavam as práticas
religiosas de matriz afro-brasileira. Esse dia me faz refletir sobre como as
práticas religiosas africanas se enraizaram fortemente nestas terras e produzem
frutos de amor, convivência e solidariedade. Viva Cosme e Damião! Bejé ó ró! La
ô!
Por
Eu mesmo peguei a sacolinha na festa de Cosme e Damião no terreiro de Chico Preto, e depois que ele morreu, o terreiro ficou sendo de Mãe Rosa. Acredito que seja esse mesmo ao qual se refere no texto, por ser próximo do cemitério em Montes Claros. Viva Cosme! Viva Damião! Bejiróó! Oni Beijada!
ResponderExcluir❤️❤️❤️ obrigada por compartilhar🎂🎂🎂Viva Cosme e Damião🎂🎊!!!
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