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Jota
Neris. Membro das Academias de Letras de Vitória da Conquista e Teófilo Otoni.
Premiado em eventos culturais na Bahia e Minas e em várias noites literárias do
Festivale. Autor de 04 livros "independentes" e participação coletiva
em outras 14 obras literárias.
Memória
Festivaleira
Por Jota Neris
“Ter
tempo para apreciar um poema é ter tempo para viver”
(Jota Neris)
Sou catingueiro, baiano do
Mergulhão, zona rural do sertão de Aracatu. Desde menino, já em Vitória da
Conquista, me envolvi na cultura do sudoeste baiano, sobretudo na literatura.
Na adolescência e juventude
tive encontros maravilhosos com nomes de grande expressão como Elomar Figueira,
Xangai, Edgar Mão Branca, Grupo Barros, Evandro Correia, entre outros. Com
grandes literatas como Dal Farias, Jacira Penalva, Ataíde Macedo, Graciano
Araújo, Fábio Andrade e outro, fundamos a Sociarte – Sociedade Artística
– responsável pelo lançamento de várias obras literárias e eventos marcantes na
cultura de Vitória da Conquista e região. Um fato decisivo que marcou profundamente
a minha vida, contribuindo diretamente na minha inspiração e produção artística
foi ouvir todos os dias, nas primeiras horas das manhãs o Programa “Nossa
Terra”, transmitido pela Band FM, sob a locução e produção de Rubem do Prado.
No início de 1994, me mudei
para Mata Verde, a banda mineira da Bahia ou a banda baiana de Minas. Sinto uma
satisfação imensurável em dizer que na medida em que fui contando os causos,
fazendo os repentes e divulgando a poesia, fui aos poucos ajudando a despertar
o interesse pelos versos poéticos nos mataverdenses, sobretudo nos estudantes.
Certa feita, numa entrevista
na Band FM em Vitória da Conquista, um comentário meu chamou a atenção do
radialista Rubem do Prado, quando citei
que Mata Verde era um misto de dois municípios, dois Estados e duas regiões do
Brasil, que as diferenças do Sudeste e do Nordeste brasileiro ali se acabavam,
pois Mata Verde, embora mineira, trazia muitos traços baianos e nordestinos.
Tão logo fui amineirando e
conhecendo parte da diversa e expressiva cultura Valina, fui
participando de eventos em Almenara, Pedra Azul, Araçuaí, Águas Vermelhas e
outras cidades. A partir daí comecei a ouvir a palavra Festivale, até
então desconhecida para mim. Ouvir nomes como Saulo Laranjeira, Rubinho do Vale,
Paulinho Pedra Azul, Pereira da Viola, sendo referências do maior evento de
organização da cultura popular do Vale do Jequitinhonha, soava como algo
fantástico, extraordinário, admirável, que me deixava cada vez mais
boquiaberto.
Apesar de todo o fascínio
que este movimento despertava em mim, eu me sentia muito distante do Festivale,
pois tinha muito pouco contato com pessoas que na prática sabiam o que
realmente era essa grande festa da cultura do Vale do Jequitinhonha.
Antes do advento da internet e,
consequentemente, dos meios sociais, Mata Verde ainda vivia os tempos do posto
telefônico, que alguém ligava, deixava um recado e ficava à espera de um garoto
que ia na casa do destinatário chamar para vir atender à ligação. Naquele tempo
celular, internet, redes sociais e até mesmo o computador eram coisas de outro
mundo. A preço de ouro o telefone fixo começava a chegar nas casas com melhores
condições financeira. No badalado São João mataverdense de 2002 ouço falar que
aconteceria a Noite Literária do Festivale, em Pedra Azul. Não hesitei
em concluí um poema que rondava minha cabeça, intitulei de Alma Catinguera, que
no ano seguinte daria nome ao meu 2º livro “independente”.Selei a inscrição no
posto dos correios e dias depois tive a grande alegria de receber a notícia que
o poema estava selecionado para a noite literária, que aconteceria numa
quinta-feira, 25 de julho.
Naquela noite histórica tive
a alegria do reencontro com Luís Santiago, Juarez Freitas e Wiliam Pinheiro.
Ouvi nomes como: Cláudio Bento, Beth Guedes, Jô Pinto, Herena Barcelos, Neilton
Lima, Aneuzimira Caldeira (Neca)... que eu nem fazia ideia que se tratava de
grandes ícones da arte do Vale.
Fiz minha modesta
apresentação de estreante e, para minha maior surpresa o poema sagrou-se vencedor
daquela noite iluminada, dia do trabalhador rural, tema destacado no meu poema.
O troféu, obra do artesão itinguense Ulisses
Mendes, exibia um trabalhador rural crucificado que, por uma grande
coincidência apresentava os trajes e utensílios iguais aos da minha
caracterização. Daí em diante fui me
fazendo presente e identificando cada vez mais com o Festivale. Estive
em várias edições, destaco de forma especial o Festivale de Salinas, em
2004, único que tive a alegria de estar presente a semana inteira.
Sempre que posso me faço
presente, pois a segunda quinzena de julho, período em que geralmente acontece
o Festivale, não somente a cidade anfitriã, mas todo o Vale do
Jequitinhonha e os seus filhos, natos e adotivos, espalhados pelo mundo
inteiro, respiram a arte nas suas mais diversas manifestações culturais. Eu
diria que respirar o ar festivaleiro na sua essência, sua alma efervescente, é
um prazer orgástico, algo indescritível que somente quem vivencia essa magia
sabe o que é reencontrar velhos amigos, fazer novos, ver as apresentações de
Gonzaga Medeiros e Tadeu Martins, cantar e ouvir canções memoráveis, apreciar e
declamar poemas nas praças, se encantar com artesanatos, oficinas, tomar uma
boa cachacinha – um jatobá, como bem exalta o meu amigo Cássio de Catuji
– e se inspirar com as notáveis performances dos palcos, cantigas dos corais,
Barraca Festivale, rodas de conversa e a arte saltitando com muita graça e
gosto.
Já destacava muito bem o
trovador popular, Rubinho do Vale, na canção FESTIVALE, quando este grande
evento completava vinte anos de história com muita luta, paixão e resistência: “Meu
coração bate forte de alegria quando vai chegando o dia da folia começar”. E
viva o Festivale, esse respeitável senhor quarentão com muita memória e
causos peculiares...
Sou Almir Galvão Farias, irmão do poéta Conquistense Dal Farias, compadre de Jota Neris e ex esposo da escritora Norbélia Neris, também membra da Academia Conquistense de Letras.
ResponderExcluirConheci Jota Neris na adolescência, o qual já apresentava um interesse pelas artes poética. Jota é um catingueiro nato que adora falar das coisas lá do sertão onde nasceu. No seu livro Alma Catingueira, ele retrata um pouco da região onde ele nasceu e cresceu, onde a caatinga é mostrada ao seu povo como um santuário de homens trabalhadores, plantadores de sonhos, muitas vezes vivendo num cenário de fartura de água e plantações, outras vezes as dificuldades de anos de secas e sol intenso que gera uma paisagem cinzenta. Foi neste contexto que nasceu Jota Neris, foi neste cenário que ele começou a escrever suas prosas e versos.
Hoje, Jota Neris é um patrimônio vivo da cultura do Vale do Jiquitio ha, sobretudo das cidades de Mata Verde em Minas e Aracatu na Bahia.
Parabéns poeta pela colaboração com a cultura desta região das Minas Gerais...
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ExcluirJota Neris você em poucas palavras resumiu uma vida de dedicação a cultura, incentivo a leitura, e sem contar que incentivou a curiosidade de vários estudantes a escrita... Parabéns
ExcluirSou professor Jai Lebrão, amigo de Jota e sua esposa Alice. Compartilhamos do mesmo gosto cultural. Orgulhoso fico do meu colega/amigo poeta, pois seu talento não é comum em nosso meio. Tenho duas ilustrações em suas obras, onde fico lisonjeado pelos mesmos.
ResponderExcluirMeu nome é Valquiria Fonseca, sou de Montes Claros/MG e tive a grata satisfação de ser presenteada com o livro do J. Neris "Alma Catingueira" que depois me foi afamado. Busco insessantemente por outro exemplar. Por favor me dêem uma orientação. Livro maravilhoso, leitura prazerosa!
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