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Nos últimos dias tornou-se comum a quem passar em frente da Catedral
de São João Batista, em Almenara, observar um fato que não deixa de tocar a
sensibilidade humana de quem tem um pouquinho de amor ao próximo.
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Ali, onde vão as pessoas católicas, ponto estratégico da cidade, por
onde todos passam, os índios maxacalis, foco de atenções, estudos e debates
podem ser vistos sem qualquer disfarce, no estado de abandono e absoluta
miséria em que se encontram Desprotegidos, ao Deus dará, sujos, transfigurados, mal vestidos,
escolhem exatamente aquele local para exporem as mazelas com que a chamada
"civilização branca" os "premiou" para roubar-lhes a paz e
os meios de sobrevivência, corrompendo-os e levando-os a um continuo processo
de decadência. Ali, eles podem ser vistos exatamente como vivem atualmente, não
buscando as suas raízes, como pensam alguns, mas como nômades, explorando a
caridade pública para saciarem os vícios adquiridos fora de suas aldeias. Amontoados como animais irracionais, homens, crianças e mulheres
parecem desligar-se do mundo, entorpecidos pelo álcool, alheios ao que se passa
em torno deles. Vendo-os mais de perto é que se pode aquilatar bem a extensão
da desgraça que os tem reduzido a trapos humanos, inválidos e ignorados por uma
sociedade de consumo, egoísta, ambiciosa e mesquinha, muito mais preocupada com
suas sandices do dia-a-dia. Nenhuma mão humana os toca, procura amenizar lhes as agruras e a
solidão, guiando-os a um lugar seguro, onde possam passar pelo menos uma noite,
sem os perigos a que estão sujeitos. O espírito de solidariedade e de companheirismo os mantém unidos,
mesmo em condições tão adversas, em ambiente que não condiz com seus hábitos de
extrema liberdade de ação. Naturalmente buscam a proximidade de uma casa de orações para se
sentirem mais seguros e protegidos. Logicamente esperando que a generosidade de
alguém os beneficie com palavras amigas, com o pão que mata a fome, com a água
que mitiga a sede, com um abrigo que os acolha, com o conforto espiritual de
que tanto necessitam. Entretanto a noite avança, faz-se o silêncio, as luzes da igreja se
apagam, as vozes se calam, as portas se fecham e a bondade esperada não surge.
Os maxacalis estão sós. Muito sós... Pobres-ricos maxacalis, donos de um oceano verde de colonião, que de
nada lhes serve, que valem tanto para o folclore e a cultura, mas que, como
pessoas humanas, pouco significam. Sebastião Lobo Publicado no Jornal VIGIA DO VALE - n° 818 - 8 de junho de 2001. Extraído do livro “ Na Boca do Lobo” Crônicas publicadas no Jornal
Vigia do Vale/2003 Por |


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