terça-feira, 25 de novembro de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - Pobres-ricos Maxacalis

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Nos últimos dias tornou-se comum a quem passar em frente da Catedral de São João Batista, em Almenara, observar um fato que não deixa de tocar a sensibilidade humana de quem tem um pouquinho de amor ao próximo.

Ali, onde vão as pessoas católicas, ponto estratégico da cidade, por onde todos passam, os índios maxacalis, foco de atenções, estudos e debates podem ser vistos sem qualquer disfarce, no estado de abandono e absoluta miséria em que se encontram

Desprotegidos, ao Deus dará, sujos, transfigurados, mal vestidos, escolhem exatamente aquele local para exporem as mazelas com que a chamada "civilização branca" os "premiou" para roubar-lhes a paz e os meios de sobrevivência, corrompendo-os e levando-os a um continuo processo de decadência.

Ali, eles podem ser vistos exatamente como vivem atualmente, não buscando as suas raízes, como pensam alguns, mas como nômades, explorando a caridade pública para saciarem os vícios adquiridos fora de suas aldeias.

Amontoados como animais irracionais, homens, crianças e mulheres parecem desligar-se do mundo, entorpecidos pelo álcool, alheios ao que se passa em torno deles. Vendo-os mais de perto é que se pode aquilatar bem a extensão da desgraça que os tem reduzido a trapos humanos, inválidos e ignorados por uma sociedade de consumo, egoísta, ambiciosa e mesquinha, muito mais preocupada com suas sandices do dia-a-dia.

Nenhuma mão humana os toca, procura amenizar lhes as agruras e a solidão, guiando-os a um lugar seguro, onde possam passar pelo menos uma noite, sem os perigos a que estão sujeitos.

O espírito de solidariedade e de companheirismo os mantém unidos, mesmo em condições tão adversas, em ambiente que não condiz com seus hábitos de extrema liberdade de ação.

Naturalmente buscam a proximidade de uma casa de orações para se sentirem mais seguros e protegidos. Logicamente esperando que a generosidade de alguém os beneficie com palavras amigas, com o pão que mata a fome, com a água que mitiga a sede, com um abrigo que os acolha, com o conforto espiritual de que tanto necessitam.

Entretanto a noite avança, faz-se o silêncio, as luzes da igreja se apagam, as vozes se calam, as portas se fecham e a bondade esperada não surge. Os maxacalis estão sós. Muito sós...

Pobres-ricos maxacalis, donos de um oceano verde de colonião, que de nada lhes serve, que valem tanto para o folclore e a cultura, mas que, como pessoas humanas, pouco significam.

 

Sebastião Lobo

 

Publicado no Jornal VIGIA DO VALE - n° 818 - 8 de junho de 2001.

Extraído do livro “ Na Boca do Lobo” Crônicas publicadas no Jornal Vigia do Vale/2003


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