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| Foto: IEPHA |
Na
imponente passarela global da COP30, onde o discurso verde deveria ecoar com a
força da mudança, o que se ouviu de uma voz influente foi o velho e rançoso
coro da desumanização. As declarações pejorativas da CEO da Sigma Lithium,, classificado o povo do Vale do Jequitinhonha
como "geração perdida" e "mulas de 'água", não são apenas
um erro de cálculo; são um atestado de cegueira moral e histórica que o
capital, travestido de sustentável, insiste em ostentar.
A escolha
das palavras revela mais do que a intenção; revela a cosmovisão. Chamar uma
população inteira, forjada na luta diária e na secura do semiárido, de
"geração perdida" é varrer para debaixo do tapete séculos de
história, de arte, de sabedoria ancestral. É ignorar a beleza natural que brota
do barro transformado em cerâmica pelas mãos das mulheres e homens artesãos,
cuja arte se tornou símbolo de Minas Gerais e do Brasil. É desqualificar a
poesia que nasce da viola, a fé que move os mutirões e a organização social que
mantém a vida digna onde o Estado há muito falhou.
E a alcunha
"mulas de água"? É a tradução crua e cruel do que a lógica
extrativista realmente pensa de quem vive no território: mão de obra
descartável ou, pior, meros instrumentos para carregar nossos recursos. O
lítio, vendido como a esperança "verde" para o mundo, tem custado a
água e a paz de nosso povo e de nossas comunidades no Vale, como evidenciam as
denúncias de impactos ambientais e sociais. A "mula de água" é a
inversão perversa do discurso onde o social é reduzido à exploração ou ao
assistencialismo de cestas básicas, cisternas, caixas de água, enquanto a
autonomia e o modo de vida local são pulverizados.
O Vale do
Jequitinhonha não é um vale de miséria ou de passividade. É um Vale de
Resistência, as peças de barro que adornam museus e casas pelo mundo são a
prova viva de uma cultura que teima em florescer. São quilombos, são festejos,
são a tradição oral dos trovadores do Vale, são os saberes das quitandeiras e a
força dos povos originários e o modo de vida de ser do Vale..
O povo do
Jequitinhonha resiste à seca, à pobreza estrutural e, agora, resiste à nova
onda de mineração que, sob o manto da "transição energética", tenta
impor o progresso de cima para baixo. É uma luta por território, por água e
pela dignidade de escolher o próprio futuro, e não de ser obrigado a aceitar as
migalhas do boom do lítio.
A base da
vida na região é o coletivo. Os mutirões, as associações , os grupos de luta
por terra e água; a sobrevivência no semiárido é, por natureza uma força
solidária que contrasta brutalmente com a lógica individualista e predatória do
grande capital.
A audácia
de proferir tais injúrias num fórum dedicado ao futuro do planeta revela a
fissura entre o discurso e a prática das corporações. O progresso que destrói a
vida, a cultura e a autoestima de um povo; é a repetição de um ciclo de
colonização.
Que as
declarações de desprezo proferidas pela Senhora Ana Cabral, CEO
da Sigma Lithium, em entrevista ao programa Fast Money, do canal Times Brasil,
durante a COP 30. não nos
desviem do ponto central: a riqueza do Vale reside na sua resiliência
inacreditável, na sua gente que, mesmo marginalizada, continua a gerar arte,
afeto e vida. O Vale não é "perdido"; é o caminho, nossas criança não
são “ Mulas de Água” , são a esperança de um futuro melhor, e essa gente vai dá
com os
“BURROS NA ÁGUA” porque nosso povo não se curvará a empresas ou
aos psuedocoroneis e pseudopolíticos que ainda existem em nossa região. O Vale do Jequitinhonha não precisa ser salvo,
o Vale precisa ser respeitado.
Jô Pinto,
nas terras do meu querido Vale do Jequi

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