quarta-feira, 10 de setembro de 2025

GIRO PELO VALE - Vale do Jequitinhonha de luto pela passagem espiritual da Professora Marizinha


 

 

O Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais e a comunidade acadêmica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), está de luto. Lamentando profundamente o falecimento da professora Maria das Dores Pimentel Nogueira, carinhosamente conhecida como Marizinha. Sua partida deixa um vazio imensurável na educação pública brasileira e na extensão universitária, áreas às quais dedicou sua vida com paixão, competência e sensibilidade.

Graduada em Pedagogia pela UFMG, Especialista em Avaliação e Problemas Regionais, pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Mestra em  Educação, com foco em Políticas de Ensino Superior, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Doutora em Educação pelo programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social da UFMG, com o Doutorado Latino Americano em Educação.  Marizinha construiu uma trajetória marcada pelo compromisso com a inclusão social, a valorização dos saberes locais e a transformação das realidades regionais por meio da educação. Ela foi uma das vozes mais atuantes na defesa da extensão universitária como ferramenta de descolonização do pensamento e promoção da diversidade cultural.

Durante sua carreira, ocupou cargos de destaque como Pró-Reitora Adjunta de Extensão da UFMG, coordenadora do Programa Polo de Integração no Vale do Jequitinhonha e da Superintendência de Interiorização da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais. Sua atuação foi reconhecida com a Medalha JK, concedida pelo governo de Minas Gerais em 2005.

Marizinha foi uma das idealizadoras do Polo de Integração do Vale do Jequitinhonha, criada em 1996 e coordenado por ela desde sua criação, o Polo teve e tem uma importância em diversas áreas da região, entre essas o Fórum da Mulher, espaço de empoderamento das mulheres,  Encontro de Comunicadores, responsável por transformar a forma de se fazer comunicação, principalmente a comunicação comunitária e a Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha na UFMG, hoje uma das mais importantes feiras de artesanato de Minas Gerais.

Mais do que títulos e funções, Marizinha foi uma educadora que acreditava na potência transformadora da universidade quando ela se abre para o povo. E nesse sentido ela não era apenas a acadêmica que pensava, ela estava no campo dialogando como o povo e organizações, de modo especial o povo do Vale do Jequitinhonha. Seu legado permanece vivo nas comunidades que tocou, nos projetos que idealizou e nas vidas que inspirou.

Neste momento de dor, celebramos sua história com gratidão e reverência. Que sua memória continue iluminando os caminhos da educação comprometida com a justiça, a cultura e a dignidade humana.

Vá na luz minha amiga, meus sinceros agradecimentos por tudo que fez pelo Vale do Jequitinhonha.

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sexta-feira, 5 de setembro de 2025

CONHECENDO O JEQUI - Cordões de Caboclos em Salto da Divisa

Fotos: Vilmar Oliveira

 

Cordões de Caboclos em Salto da Divisa: Uma Celebração da Herança Indígena Brasileira

Última cidade do Vale do Jequitinhonha, na divisa com a Bahia, o município de Salto da Divisa, em Minas Gerais, preserva uma das manifestações culturais mais singulares do Brasil: os desfiles dos Cordões de Caboclos Tupinambás e Guaranis durante o Carnaval. Mais do que uma festividade, essa tradição é uma homenagem viva às raízes indígenas do país, marcada por rivalidade simbólica, cores vibrantes e profunda reverência à ancestralidade.

Uma Rivalidade que Celebra a Cultura, durante o Carnaval, os cordões Tupinambás e Guaranis tomam as ruas em uma disputa cultural que transcende o espetáculo. Embora os povos Tupinambá e Guarani sejam historicamente distintos, com origens, línguas e práticas próprias, a celebração em Salto da Divisa une essas referências em um gesto de reconhecimento e valorização da diversidade indígena.

Essa rivalidade não é de confronto, mas de exaltação, cada cordão busca representar com orgulho a força, a beleza e a espiritualidade de seus respectivos povos, encantando moradores e visitantes com danças, cantos e indumentárias que remetem às tradições ancestrais.

Os Tupinambás foram um dos primeiros povos indígenas a entrar em contato com os colonizadores europeus nos séculos XVI e XVII. Habitantes da costa brasileira, eram conhecidos por sua complexa organização social e rituais guerreiros, incluindo práticas de antropofagia que tinham significados espirituais e simbólicos.

Hoje, comunidades Tupinambás resistem no sul da Bahia, lutando pela preservação de sua identidade e território. Um marco recente dessa luta foi o retorno do Manto Tupinambá ao Brasil, uma peça cerimonial que simboliza a reconexão com a ancestralidade e a reparação histórica.

Guaranis, espalhados por Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia, os Guaranis pertencem ao tronco linguístico Tupi-Guarani e mantêm uma relação espiritual profunda com a natureza, vivem em comunidades organizadas, onde o pajé exerce papel central como líder espiritual, curador e conselheiro.

A cultura guarani valoriza a agricultura, a caça e a pesca como formas de sustento e conexão com o meio ambiente, suas práticas e crenças.

 A Linguagem Tupiguarani, é um elo entre povos, a língua Tupiguarani, que mistura elementos do Tupi e do Guarani, foi amplamente utilizada por diversos povos indígenas e representa um elo linguístico e cultural entre os Tupinambás e Guaranis. Essa fusão linguística é também um símbolo da riqueza e complexidade das culturas originárias do Brasil.

O carnaval como Resistência e Memória, mantém as tradição dos cordões de caboclos em Salto da Divisa, tem raízes profundas na resistência das famílias de escravizados que, ao longo das décadas, mantiveram viva a memória indígena por meio da cultura popular. Os desfiles são mais do que uma atração carnavalesca, são um ato de afirmação identitária, um espaço de celebração da diversidade e um tributo à história silenciada de muitos povos.

Essa manifestação é um Patrimônio Cultural do Jequitinhonha, é um dos pilares da identidade regional do Vale do Jequitinhonha. Através dos cordões, Salto da Divisa reafirma seu compromisso com a preservação da memória, da arte e da espiritualidade dos povos originários, transformando o Carnaval em um verdadeiro ritual de pertencimento e reverência.

 

Referências

https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Guarani

https://mundoeducacao.uol.com.br/

Pagina da Prefeitura de Salto da Divisa/facebook


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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

DIÁRIO DE LEITURA - Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo, de Gloria Anzaldúa


 

Se você deseja mergulhar em uma leitura aprofundada sobre os desafios enfrentados por mulheres racializadas na escrita, recomendo o ensaio epistolar de 1980 de Gloria Anzaldúa, "Falando em Línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo".

Nesse ensaio, Anzaldúa se dirige diretamente a mulheres negras, indígenas, chicanas, asiáticas e lésbicas, estabelecendo uma interlocução afetiva e política que rompe com os modelos tradicionais da crítica literária ocidental. Ao escolher a forma de carta, a autora cria uma linguagem de intimidade e solidariedade, ao mesmo tempo em que denuncia as estruturas de exclusão que permeiam o universo literário.

Anzaldúa evidencia como a escrita, para mulheres de cor, é atravessada por múltiplas camadas de opressão: racismo, sexismo, classismo e homofobia. A autora relata sua própria experiência com a língua — o inglês imposto pela escola e o espanhol marginalizado — como metáfora do apagamento cultural e da violência simbólica sofrida por essas mulheres. Nesse contexto, a escrita não é um exercício estético neutro, mas um ato de resistência. "Palavras são uma guerra para mim", afirma, revelando a tensão entre o desejo de expressão e os mecanismos de silenciamento institucionalizados.

A autora reflete sobre os desafios enfrentados por essas mulheres no âmbito literário, destacando sua invisibilidade nos círculos dominados por homens brancos e feministas brancas. Anzaldúa luta para encontrar uma voz própria em sua escrita, enquanto encoraja as mulheres a escreverem a partir de suas experiências pessoais e culturais, sem sucumbir às expectativas externas.

Anzaldúa descreve o ato de escrever como um processo transformador e perigoso, que exige confrontar medos e resistências internas. Ela critica as estruturas acadêmicas e literárias que desvalorizam as perspectivas das mulheres de cor, instando-as a priorizar suas próprias histórias e a não se adaptarem às normas impostas pelo feminismo branco. A carta inclui reflexões sobre a conexão entre vida e escrita, a importância da autenticidade e a necessidade de escrever com paixão e verdade, a partir das próprias entranhas.

O texto também apresenta uma crítica incisiva à normatividade estética da literatura canônica, que valoriza a forma, a neutralidade e o distanciamento como critérios de legitimidade. Anzaldúa questiona essas exigências, que frequentemente excluem vozes dissidentes e experiências periféricas. Ao reivindicar uma escrita marcada pela subjetividade, pela oralidade e pela experiência vivida, a autora propõe uma ruptura com os paradigmas eurocêntricos da produção literária.

O texto é acompanhado de citações de outras escritoras como Cherríe Moraga, Alice Walker e Nellie Wong, que também abordam temas de opressão, criatividade e resistência. Em conjunto, a carta é um chamado à ação para que as mulheres do terceiro mundo se empoderem por meio da escrita e desafiem as estruturas que as marginalizam.

"Falando em Línguas" é, portanto, um manifesto político e literário que convoca mulheres do chamado "terceiro mundo" a se apropriarem da palavra como instrumento de transformação. Ao articular denúncia, memória e criação, Anzaldúa constrói um texto que permanece atual e necessário, sobretudo em contextos onde a escrita ainda é um privilégio de poucos. Sua carta é um convite à insurgência narrativa e à valorização de epistemologias marginalizadas.

 

Referência

Anzaldúa, G. (2000). Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo. Revista Estudos Feministas, 8(1), 229. https://doi.org/10.1590/%x


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quarta-feira, 3 de setembro de 2025

OPINÃO DO BLOG - Vale do Jequitinhonha não é apenas um nome

Fonte: Portal Minas

 

O nome "Vale do Jequitinhonha" carrega consigo não apenas uma referência geográfica, mas também um profundo simbolismo histórico e cultural. Localizado no nordeste de Minas Gerais, o vale é assim chamado porque o rio Jequitinhonha atravessa toda a sua extensão, desde sua nascente no município de Serro até sua foz no município de Belmonte, na Bahia. O termo "Jequitinhonha" tem origem indígena, “rio largo e cheio de peixes (IBGE)”, mas o conhecemos como “Jequi” Armadilha Indígena e “Onhas ” Peixe ou seja Armadilha de pegar peixes.

A termologia “Vale do Jequitinhonha “não é uma simples designação geográfica. Ao longo das décadas, esse nome foi apropriado por diferentes discursos, sejam políticos, acadêmicos, midiáticos e culturais, no qual o moldaram conforme interesses diversos. O uso do nome, portanto, não é neutro: ele revela tensões entre identidade, estigma e resistência.

Historicamente, o Vale do Jequitinhonha foi rotulado como uma das regiões mais pobres de Minas Gerais e do Brasil. Essa marca, muitas vezes reforçada por políticos e seus interesses particulares e pela mídia, cristalizou uma imagem de miséria que obscureceu por muito tempo a riqueza cultural, ambiental e humana do território. O nome passou a ser usado como sinônimo de carência, apagando a complexidade e a diversidade dos municípios que o compõem.

Por outro lado, artistas, artesãos, comunidades tradicionais e lideranças locais ressignificaram o nome como símbolo de resistência e potência criativa. O artesanato em cerâmica, os bordados, a música, literatura, os grupos de cultura popular e comunidades tradicionais do Vale são expressões que desafiam o estigma e reivindicam uma identidade própria. Nesse contexto, o uso do nome "Vale do Jequitinhonha" torna-se um ato político: afirmar o nome é afirmar a existência, a memória e o direito à dignidade.

É preciso também questionar como instituições, universidades, ONGs, governos e empresas e grandes empreendimentos utilizam o nome em projetos e pesquisas. Muitas vezes, o nome é invocado para atrair recursos ou justificar intervenções, sem que haja uma escuta real das comunidades envolvidas. O risco é transformar o Vale em objeto de exploração ou vitrine de políticas, sem garantir protagonismo aos seus habitantes.

O uso do nome "Vale do Jequitinhonha" deve ser feito com responsabilidade e consciência crítica. Nomear é também narrar e toda narrativa carrega escolhas, silêncios e disputas. Cabe a nós, enquanto sociedade e moradores desse chão, reconhecer que o Vale é mais do que um território marcado por dificuldades: é um espaço de saberes, afetos e possibilidades que merecem ser contados por quem vive e transforma essa realidade todos os dias.

Jô Pinto

Historiador/Mestre em Ciências Humanas

 

O Vale do Jequitinhonha costuma ser descrito a partir de vários elementos: a poeira, a aridez, o sol, o calor, o rio, por exemplo, vão formando seu ambiente. Os tropeiros, canoeiros, pescadores, artesãos, lavadeiras, romeiros são alguns de seus personagens sempre lembrados. A junção disso tudo compõe as suas muitas narrativas, forjadas tanto na dureza quanto na delicadeza da existência. São muitas as contradições, próprias de qualquer ambiente humano, muitas as diferenças. Mas tudo está lá, ao longo de um vale de muitos jequitinhonhas.

este cenário, a arte de fazer a vida ainda é algo que se aprende e se ensina, mesmo em contextos improváveis, como pequena flor no deserto. Por isso nos espanta essa beleza. Esses fazeres não estão separados das pequenas (mas poderosas) narrativas de cada pessoa. São algo tão variado quanto toda a paisagem, mas têm em comum as sensibilidades e os desejos das gentes, as inteligências populares, misturadas às devoções, às místicas e à vivência mágica dos seus mistérios. Artesãos e artesãs colocam ali sua própria história, e é essa a força criativa de um grande (hiper)texto – mãos e mente integradas.Teria este povo a vida nas mãos?

Márcio Simeone Henriques

 UFMG




terça-feira, 2 de setembro de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - A Cova de São Sabino

Foto: Internet

 

Às margens de uma estrada em Pedra Azul, encontra-se uma singela capela, sempre iluminada por velas deixadas por fiéis. Conhecida como Cova de São Sabino, ela está situada a 27 km da área urbana e é símbolo de fé e devoção popular. Sua origem remonta a uma lenda marcada por dor, injustiça e redenção.

Sabino era um vaqueiro humilde, natural de Encruzilhada, na Bahia, que trabalhava nas redondezas de Pedra Azul. Segundo a lenda, ele foi vítima de uma cruel injustiça. Uma jovem, hospedada na fazenda onde Sabino trabalhava, engravidou de um dos filhos do fazendeiro. Pressionada pelos costumes da época e pelo medo do julgamento social, ela acusou falsamente Sabino de tê-la violentado.

O fazendeiro, para dar exemplo aos demais, ordenou que seus jagunços o espancassem e esquartejassem. Sabino foi morto de forma brutal e enterrado em uma cova rasa, em um local ermo e coberto pelo mato.

No dia do parto, a jovem enfrentou sérias complicações e temeu pela própria vida. Em desespero, dirigiu-se em oração ao espírito de Sabino, pedindo perdão e suplicando por ajuda. Prometeu que, se sobrevivesse junto com seu filho, construiria uma capela no local onde ele fora enterrado.

Após o parto milagroso, ela cumpriu sua promessa. Ao abrir a cova, todos se surpreenderam: o corpo de Sabino estava intacto, como se nunca tivesse sido esquartejado. No local, brotavam flores e jorrava sangue da terra. O povo passou a considerá-lo um santo, e assim nasceu a devoção a São Sabino.

A capela construída tornou-se um ponto de peregrinação. Durante o ano, inúmeros fiéis visitam o local, fazem promessas e deixam pedidos anotados em pequenos cadernos que ficam junto à cova. É comum encontrar objetos de fé, imagens de santos e diversas cruzes ao redor da capela, colocadas por devotos em agradecimento às graças alcançadas.

Uma das figuras mais emblemáticas da devoção a São Sabino é Alípia Teixeira, conhecida como Vó Lipinha, de 94 anos. Ela participa todos os anos da romaria à Cova de São Sabino, levando pedidos e a bandeira de São Sebastião. A peregrinação é marcada por alegria: os romeiros chegam tocando gaitas e bumbos, rezam o terço e fazem seus agradecimentos.

Vó Lipinha é também, uma guardiã das tradições culturais de Pedra Azul, mantendo vivas celebrações como a Folia de Reis, a festa de São Sebastião e a devoção ao santo popular da região.

A visita à capela se encerra com os reiseiros cantando o reisado em frente à pequena construção. Após saudarem São Sabino, os romeiros se despedem, pedindo saúde e proteção para que possam retornar no próximo ano.

Adaptado por Jô Pinto, com base no vídeo de @will Nascimento e texto do  Portal Minas.

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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

MEMÓRIA CULTURAL - O legado de Seu Kelé do Arraial

 



 

Lá do céu evem caindo

Três raminhos do ful^

O do meio evem dizendo

Que este rio é meu amor...

É meu amor

O do meio evem dizendo

Lá do ccéu evem caindo

Três raminhos de fulo (Josino Medina)

 

No dia  20 do mês de novembro de 1950, nesta cidade de Araçuaí, nascia Clemente Pereira dos Santos. Conhecido por “Seu Kelé do Arraial”, comunidade de Araçuaí reconhecida como quilombola.

                   Um homem simples, alto, de cor preta, rosto traçando linhas do tempo mas sempre estampando na face o sorriso juvenil e esperançoso do amanhã. Sua fala mansa e serena acalentava e nos alegrava com a sua obstinação na labuta  de pai, esposo, trabalhador e artista; mãos calejadas pelo trabalho braçal,  cujas marcas se misturam a de tantos homens que contribuíram na abertura de estradas para que nossa região fosse transitável. Ele foi  funcionário do DER -Departamento de Estradas e Rodagens até se aposentar, órgão do estado de MG., instalado na cidade em terreno  do Coronel José Antonio Tanure, adquirido na gestão do José Zaiter Tanure ( período de 31/01/1951 a 30/01/1955).

                   Clemente Pereira dos Santos junto com seu amigo João Maria da Silva, fundaram o Coral Santa Teresa em 12 de outubro de 1987, que atraiu muitos adolescentes para cantar músicas regionais e animar as celebrações na Capela de Santa Teresa em Araçuaí. Coral apresentou-se pela primeira vez em um Festivale, no FESTIVALE da cidade de Itinga em 1998, depois em 2002 em Pedra Azul, 2007 em Joaíma e 2008 em Capelinha.

               Como artista esteve sempre na linha de frente com seu companheiro “Nilton Curió”, seu irmão de andanças e noitadas. Vimos a expressão de seu semblante entristecido ao perder seu amigo em 17 de janeiro de 2015. Eram inseparáveis, juntos participavam ativamente da rotina cultural dos seus grupos e do Centro Cultural de Araçuaí Nagô.

Mas adiante em outubro do ano de 2010 perdeu Jesuína Souza Santos “Zuma”, sua parceira de vida, que  lhe apoiava em tudo, causando  sofrimento e solidão.

Em 27 de agosto/2025, “Seu Kelé” nos deixou, fazendo sua passagem e se encantando como nossos griôs. Lembremos de suas contribuições, ajudando na realização das atividades do Centro Cultural de Araçuaí Nagô e mantendo de pé o Coral Santa Teresa.

 

Vai se o homem e fica seu legado.


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sexta-feira, 8 de agosto de 2025

GIRO PELO VALE - Paróquia Santo Antônio de Itinga de Luto pelo falecimento de Pe. Carlos Badaró

Foto: Pascon/Itinga



A Paróquia Santo Antônio de Itinga, unida à Diocese de Araçuaí-MG, está em profundo luto pelo falecimento do Reverendíssimo Padre Carlos Geraldo Badaró Ramalho, ocorrido na noite desta sexta-feira, 08 de agosto, na cidade de Araçuaí-MG.

Natural de Minas Novas-MG, Pe. Carlos Badaró nasceu em 06 de outubro de 1955. Serviu como pároco da Paróquia Santo Antônio de Itinga pela primeira vez entre os dias 25 de janeiro de 1986 e 12 de janeiro de 1987. Atualmente, exercia novamente o ministério paroquial em Itinga/MG, além de desempenhar com dedicação o cargo de vigário geral da Diocese de Araçuaí.

Neste momento de dor e saudade, elevamos nossas orações ao Senhor, suplicando que acolha este fiel servo em sua glória eterna. Que Deus, em sua infinita misericórdia, conforte os familiares, amigos, paroquianos e toda a comunidade diocesana.


 

segunda-feira, 30 de junho de 2025

MEMÓRIA CULTURAL - Theófilo Benedicto Ottoni e Christiano Benedicto Ottoni

Imagem internet


Jorge Benedicto Ottoni, um dos irmãos de José Eloy Ottoni e nascido em 1782, exerceu importantes cargos políticos na Vila do Príncipe, tendo sido vereador e senador, além de tabelião. Casou-se, em 1807, com Rosália de Souza Maia e, da união, nasceram doze  filhos, sendo que dois deles foram muito relevantes para a história do Brasil: Theófilo Benedicto Ottoni e Christiano Benedicto Ottoni.

            Theófilo Benedicto Ottoni nasceu em 1807 e destacou-se na política brasileira, tendo sido ferrenho defensor do Republicanismo e do Liberalismo. Até os 15 anos, ocupava-se do comércio e acompanhava seu pai em viagens com as tropas, não tendo recebido nenhuma instrução. Com essa idade, ele e mais três irmãos passaram a morar com o tio José Eloy Ottoni, quando iniciaram seus estudos e serviram na Marinha. Ao requerer baixa da Marinha, em 1830, Theóphilo Ottoni retornou ao Serro para dedicar-se à carreira política e fundou o periódico “Sentinela do Serro” no qual defendia suas ideias liberais e democráticas. Participou da Revolução Liberal de 1842 que terminou com a derrota dos insurgentes em Santa Luzia e, como consequência, sua prisão. Posteriormente, foi beneficiado pela anistia decretada pelo imperador D. Pedro II.

Após exercer o mandato de Deputado Federal, afastou-se da política devido à derrota dos liberais para os conservadores e fundou, em 1848, a “Companhia de Comércio e Navegação do Rio Mucuri”. Com o objetivo de promover o desenvolvimento da região, Theófilo Ottoni procurou ligar o sertão mineiro a um porto marítimo, incentivou a instalação de imigrantes europeus na região e desenvolveu um núcleo urbano que recebeu o nome de Philadelphia. Em 1860, por motivos políticos, a Cia. Mucuri foi encampada pelo governo.

            Assim, Teophilo Ottoni retornou à política e foi eleito Deputado Federal e, logo após, Senador. Teve destaque na famosa “Questão Christie”, um importante impasse diplomático do governo de D. Pedro II, que culminou com o rompimento das relações entre Brasil e Inglaterra, ao liderar um importante movimento contra as pretensões imperialistas dos ingleses.

            A campanha do Mucuri fragilizou sobremaneira a sua saúde e, em 1869, faleceu Teophilo Ottoni. Desse modo, apesar de ter sido um dos maiores defensores do republicanismo no Brasil, acabou não assinando, em 1870, o Manifesto Republicano de Itu, documento fundamental para o movimento republicano brasileiro.

            Christiano Benedicto Ottoni nasceu em 1811 e, com Teophilo Ottoni, morou na casa do tio e serviu a Marinha na qual se reformou como Capitão Tenente. Formado em engenharia, foi professor de matemática na Academia da Marinha e publicou vários livros didáticos de matemática que foram usados no ensino brasileiro da época. Participou, também com o irmão, da epopeia de colonização do Vale do Mucuri, tendo sido o elaborador do projeto da estrada de rodagem entre Philadelphia e Santa Clara (atuais Teófilo Ottoni e Nanuque, respectivamente), a primeira via desse tipo do Brasil.

            Apesar de, politicamente, ter sido um inimigo de D. Pedro II, este o considerava um excelente engenheiro e administrador. Assim, Cristiano Ottoni exerceu o cargo de Presidente da Estrada de Ferro D. Pedro II, a primeira ferrovia brasileira, entre 1855 e 1865. Por isso – e por ter sido ele o homem responsável pela expansão das linhas férreas em direção a Minas Gerais e São Paulo –, Christiano Ottoni é considerado o “pai das estradas de ferro no Brasil”.

            Também atuou no campo da política, tendo sido eleito como deputado pelo Partido Liberal e, posteriormente, por duas vezes, senador. Era defensor do ideário republicano e liberal e foi um dos signatários do Manifesto Republicano de Itu. Embora não seja lembrado como um literato, Christiano Ottoni deixou algumas obras de sua autoria, tais como as biografias de Teophilo Ottoni e de D. Pedro II, “Futuro das Estradas de Ferro no Brasil” e “História da Escravidão no Brasil”. Além disso, era um notável polemista e escrevia artigos contrários aos seus adversários políticos, publicando-os na imprensa.

            Christiano Ottoni faleceu aos 85 anos, no Rio de Janeiro. Por ter sido um grande engenheiro brasileiro, foi escolhido como patrono da Escola de Engenharia da UFMG, criada em 1911. Foi homenageado ainda com a criação, em 1974, da Fundação Cristiano Ottoni, uma instituição de pesquisa vinculada à UFMG. Sua descendência também contou com destaques para a história brasileira, em especial seu filho Júlio Benedicto Ottoni e seu neto Raymundo Ottoni de Castro Maya.

 

Referência:

Antigas Oficinas Christiano Ottoni:

http://curraldelrei.blogspot.com/2016/11/antigas-oficinas-christiano-ottoni-na.html - acesso em Setembro de 2024

Autor: Alessandro Borsagli


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quinta-feira, 26 de junho de 2025

DIÁRIO DE LEITURA - Tese de Doutorado de Thaisa Silva Martins

Foto: Arquivo Pessoal




Se o objetivo é compreender como as epistemologias negras têm tensionado as estruturas do conhecimento acadêmico, deixamos como dica a tese de doutorado de Thaisa Silva Martins, defendida no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), constitui uma leitura fundamental. Intitulada “Erguendo a voz: um ensaio sobre o enfrentamento à violência através das Escrevivências de mulheres negras”, a pesquisa configura-se como uma produção que articula rigor teórico, posicionamento político e elaboração estética, assumindo o compromisso de romper com o silenciamento histórico das mulheres negras no Brasil e em contextos pós-coloniais.

Logo nas primeiras páginas, a autora evoca a contundente afirmação de Marielle Franco — “Não serei interrompida” — como enunciado inaugural de um projeto epistemológico insurgente. Trata-se de um trabalho que reivindica o direito à fala e à escuta em um campo científico historicamente marcado por assimetrias de raça, gênero e classe. Martins adota o ensaio como forma e método, não por ausência de sistematização, mas como uma escolha intencional de ruptura com a normatividade acadêmica e com os paradigmas eurocentrados de produção de conhecimento. Seu texto performa uma escrita que se pretende situada, implicada e transformadora.

A noção de Escrevivência, cunhada por Conceição Evaristo, constitui o eixo conceitual em torno do qual se articula a análise da autora. Tal conceito, que compreende a escrita como prática enraizada nas experiências de vida de sujeitos negros — especialmente mulheres —, é mobilizado como ferramenta teórico-metodológica e política. Contra a tradição do distanciamento impessoal e da neutralidade epistêmica, Martins reivindica uma escrita que emerge do vivido, do corpo e da memória, e que se inscreve como ato de resistência e de reexistência. A autora se insere nessa linhagem, produzindo um texto que se recusa a apagar os corpos negros da história e da ciência.

O corpus da pesquisa é composto pelos relatos de violência presentes na obra Raízes: resistência histórica, publicada pela editora feminista Venas Abiertas. A coletânea reúne narrativas de mulheres negras brasileiras, que escrevem a partir de suas trajetórias. A análise recai sobre os trechos que tematizam formas de violência estruturante — racismo, estupro, escravização, patriarcado, pressão estética — cuja recorrência revela a permanência de estruturas de dominação que operam de modo interseccional. A leitura proposta por Martins vai além da exposição das violências: busca evidenciar o que se repete, o que ecoa, o que sobrevive na palavra escrita, mesmo sob condições de silenciamento.

Para além da análise textual, a tese constrói um sólido aparato teórico e histórico, por meio do qual insere a Escrevivência em um contexto mais amplo de crítica ao colonialismo, ao patriarcado e ao capitalismo racial. O diálogo com autoras e autores como Grada Kilomba, Aníbal Quijano, Silvia Federici e Angela Davis sustenta uma leitura crítica das continuidades entre o projeto colonial moderno e as formas contemporâneas de exclusão. Um dos momentos mais emblemáticos do texto é a retomada da imagem de Anastácia — mulher negra silenciada por uma máscara de ferro durante a escravidão — como figura paradigmática de uma violência que persiste, ainda que sob novas formas e dispositivos.

A tese assume ainda um caráter autobiográfico, na medida em que a autora insere sua trajetória pessoal e acadêmica no desenvolvimento da pesquisa. O processo de reconhecimento identitário como mulher negra atravessa a escrita e sustenta a escolha do objeto, da metodologia e da abordagem. Tal gesto evidencia uma concepção de ciência comprometida com a vida, com a ética e com a transformação social. A implicação da pesquisadora com o tema fortalece a dimensão política da obra e reafirma que todo conhecimento é situado, como argumentam teóricas feministas decoloniais.

Ler Erguendo a voz é, portanto, acompanhar um exercício de produção de conhecimento que desafia os cânones tradicionais da academia, reivindicando a legitimidade das narrativas negras como fonte de saber. A tese apresenta contribuições relevantes para os campos dos estudos de gênero, das relações raciais, da literatura afro-brasileira e das metodologias críticas e decoloniais. Constitui uma leitura incontornável para aqueles e aquelas que compreendem a escrita como instrumento de luta, memória e transformação.

A autora nos oferece uma obra que é, ao mesmo tempo, denúncia e proposição; um texto que ressoa como grito, mas também como esperança. Um trabalho que se insurge contra o epistemicídio e que, ao fazê-lo, ergue outras vozes — vozes que, há séculos, foram silenciadas, mas que seguem insistindo em existir.

 

Boa leitura!

 

 Acesse a tese completa: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/18707


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terça-feira, 24 de junho de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - O Engenho

Imagem criada por IA



          Essa história foi contada pelo nosso amigo Eronilto Mendes, mas conhecido como Trabion, um poeta de primeira grandeza da cidade de Jacinto, no Baixo Jequi, mas ele é também um grande contador de causos. E como todo contador de causos, ele diz: Pode acreditar, não é mentira!

 

No meu tempo de criança era comum aqui na região onde moro até hoje, as pessoas fazerem rapaduras.

O meu pai mesmo tinha uma fábrica. Cultivou um canavial, montou um engenho, todo feito de madeira, não sei se você já teve oportunidade de ver um. Naquele tempo eram feitos à mão, num trabalho artesanal com muita perfeição. As moendas tinham umas cavas formando assim dentes que quando se juntavam as duas e ao serem puxadas por uma parelha de bois em movimento circular, rodavam-se uma em volta da outra se encaixando os dentes nas cavas uma da outra, e ali era colocada a cana para ser moída, retirando-se o caldo (garapa) pra fazer rapadura, só que não é isso que eu quero lhes contar, e sim um fato ocorrido com os bois que puxavam o engenho.

Um dia foram soltos no pasto, e quando o meu pai foi procurá-los para o trabalho, simplesmente eles tinham desaparecido sem deixar pistas. Foi um grande alvoroço, muita procura, perda de serviço, até que após uma semana, o meu pai encontrou-os num estado de fazer pena dentro da mata que tinha junto a pedra grande que tem aqui na fazenda.

 Os bois acostumaram com o barulho que o engenho fazia enquanto era puxado, e ao passar debaixo de uma grande árvore, onde em cima estava um upo de macacos guaridas, como são conhecidos por aqui, ouviram o barulho que eles faziam por estarem na época do acasalamento, os bois confundiram com o barulho do engenho e começaram a rodar em volta da árvore. Os guaribas vendo os bois em baixo, ficaram com medo de descer e continuaram a cantoria e os bois continuaram a rodar.

Quando meu pai Alvino, homem que nunca mentiu, viu aquela cena, ficou muito emocionado e até chorou. Calcula-se que os animais ficaram nesse ritual por volta de uns sete ou oito dias sem comer ou beber água.

Foi preciso amarrar os bois para serem retirados do local que estavam, e muitas pessoas foram visitar o lugar e constataram que tinham feito duas estradas de tanto os bois pisarem o chão dia e noite sem parar por uma semana.

Causo narrado por Trabion de Jacinto/MG


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segunda-feira, 23 de junho de 2025

MEMÓRIA CULTURAL - Os ciganos e as peças de ouro

Imagem gerada por IA


Na minha infância, costumava ir para roças de famílias conhecidas e uma das coisas que me chamava atenção naquelas cozinhas, eram os tachos de fazer doces em tamanhos variados.

            A características destes utensílios podiam ser vistos como preto por fora e avermelhados por dentro que reluziam em contato com os raios de sol que entravam nas frestas das janelas. Cheguei a pensar que aquilo devia ser feito de ouro, de tanto brilho que tinha. Ficavam pendurados em ganchos acima do fogão ,  debaixo de mesas grandes de madeira, ou, naqueles quartinhos , que  conhecemos como despensa    E para aguçar minha imaginação, achava que somente ciganos é quem fazia esses tachos, porque de tempos em tempos , apareciam uns ciganos diferentes, armavam suas barracas, instalavam suas famílias por ali  e  os homens tinham carros carregados de peças daquelas que eu via nas casas, desde alambiques para fabricação de cachaça, serpentinas  para esquentar água e vasilhas como os tachos para fazer doce e rapadura, principalmente..

            Como os ciganos gostavam de ouro, a começar pelos dentes, relógios e as mulheres cheinhas de colares, pulseiras, brincos e confirmavam que era ouro, então achava que as peças que eles vendiam também era de ouro.

             E acreditava que havia grupos de ciganos mais rico que outros, pois tinham aqueles que faziam alvoroço quando entravam na cidade, roubando tudo que achavam, desde galinha, porco e na esperteza da leitura das mãos, esse considerava pobres só sabiam roubar e trapacear nos negócios com os cavalos, enquanto os ciganos ricos não causavam confusão e viviam a negociar suas mercadorias reluzente que para mim, era tudo de ouro.

            Até o dia que passei a frequentar às escondidas a barraca de uma família cigana. Entre conversas e curiosidades me contaram que as peças que vendiam não eram de ouro, mas cobre. E que os ciganos, eram grupos nômades com diferentes gerações, mas que gostavam e prezavam a vida daquela maneira e cada grupo tinha seu jeito de ser e sobreviver.

 

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sexta-feira, 23 de maio de 2025

CONHECENDO O JEQUI - Cabo de Machado

Comunidade  Quilombola de Mocó - Francisco Badaró/MG


Cabo de Machado é o nome mais comum, mas também é conhecido como Bolo de Folha, Miguelão, Miguelinho, Zé Pelado, Careca, Cobu, Pau a Pique, Broa de fubá, João Deitado, entre outros nomes. É uma iguaria muito tradicional da gastronomia do Vale do Jequitinhonha, especialmente presente nas comunidades quilombolas da região, é também encontrada em outras regiões de Minas e do Brasil. Seu ingrediente principal é o fubá, e sua preparação carrega consigo a história e a cultura de nosso povo.

Esse bolo é um verdadeiro símbolo da culinária afetiva do Vale do Jequitinhonha, trazendo consigo o sabor da tradição e a simplicidade dos ingredientes típicos da região. Além de delicioso, o uso das folhas de bananeira ajuda na proteção ao assar, confere um aroma especial e mantém a umidade da massa, tornando-o ainda mais irresistível. Mas também reflete práticas sustentáveis e o respeito ao meio ambiente, características fundamentais da culinária quilombola.

O Cabo de Machado no Vale do Jequitinhonha, tem suas raízes na tradição alimentar das comunidades quilombolas, que desenvolveram receitas a partir dos ingredientes disponíveis em seus territórios. A culinária quilombola é um reflexo da resistência e adaptação dessas comunidades, que fugiram da escravidão e estabeleceram modos de vida autossustentáveis.

A base alimentar dos quilombolas inclui cultivos como mandioca, milho, feijão e banana, ingredientes que são utilizados em diversas preparações tradicionais. O Cabo de Machado, feito principalmente com fubá, é um exemplo dessa criatividade culinária, onde técnicas ancestrais de cozimento e preservação dos alimentos foram mantidas ao longo das gerações.

O Cabo de machado é muito mais do que uma simples receita para as comunidades quilombolas do Vale do Jequitinhonha. Ele representa identidade, resistência e tradição, sendo um símbolo da conexão dessas comunidades com sua história e seus saberes ancestrais. Ele carrega consigo saberes transmitidos de geração em geração, reforçando a identidade quilombola e a valorização da cultura afro-brasileira.

O cabo de Machado faz parte dos rituais e celebrações, é frequentemente preparado em festas e encontros comunitários, reforçando laços sociais e celebrando a cultura quilombola.

Essa iguaria não é apenas um alimento, mas um patrimônio cultural, que mantém viva a história e os costumes das comunidades quilombolas em nossa região.

Ele é muito comum nas três regiões que compõem o Vale do Jequitinhonha, Alto, Médio
e Baixo, nas minhas andanças por esse Jequi, já tive a oportunidade de experimentar em Felisburgo, Almenara, Jequitinhonha, Itinga, Jenipapo de Minas, Berilo, Francisco Badaró, Capelinha, Chapada do Norte, Minas Novas, Capelinha, Leme do Prado, Diamantina, Serro e Gouveia.  O nome varia de lugar para lugar, assim como a receita.  A base é sempre o fubá, mas outros ingredientes são adicionados como: rapadura, amendoim, queijo, doce de leite, goiabada e coco.

A culinária mineira é uma de nossas identidades e eu mesmo não sendo especialistas no assunto, acredito que o Cabo de Machado ou como queiram chamar é um símbolo da culinária do Vale do Jequitinhonha.


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quinta-feira, 22 de maio de 2025

DIÁRIO DE LEITURA - Dica de Leitura: Violações dos Direitos Humanos das Mulheres na Ditadura

Foto: Internet


Dica de Leitura da Semana: Violações dos Direitos Humanos das Mulheres na Ditadura

Essa semana, trago uma leitura potente, dolorosa e urgente: o artigo “Violações dos direitos humanos das mulheres na ditadura”, de Vera Silva, publicado na Revista Estudos Feministas. É uma leitura que fala de dor, coragem, silêncio… e sobretudo de memória.

O texto nos leva de volta aos anos de chumbo da ditadura militar brasileira (1964–1985) e escancara uma face ainda pouco discutida da repressão: a violência específica cometida contra as mulheres. Mais do que perseguição política, elas enfrentaram uma repressão misógina, sistemática e marcada por torturas sexuais, estupros, ameaças envolvendo filhos e gravidez, humilhações baseadas na sexualidade e no papel social da mulher. O corpo feminino virou campo de batalha — usado como instrumento de castigo, silenciamento e controle.

A autora nos lembra que o silêncio em torno dessas violências não foi apenas ausência de discurso, mas também uma política de repressão. Como diria o sociólogo Michael Pollak, o silêncio pode ser uma forma de sobrevivência. Muitas dessas mulheres só puderam contar suas histórias mais de 40 anos depois, graças ao trabalho da Comissão Nacional da Verdade (2011–2014), que abriu espaço para que essas vozes finalmente fossem ouvidas.

Essa escuta pública não é apenas simbólica — ela é um ato político de reconhecimento e reparação. O Brasil ainda deve muito às mulheres que resistiram e sofreram nas mãos do Estado. Os crimes sexuais cometidos naquele período são classificados como crimes de lesa-humanidade: não prescrevem, não devem ser esquecidos e precisam ser investigados.

Discutir esse tema hoje é essencial, especialmente num momento em que discursos autoritários e tentativas de apagar a história ganham espaço. Lembrar é resistir. Trazer à tona essas memórias é um passo necessário para que o corpo da mulher deixe de ser um território de repressão e se afirme como espaço de fala, de luta e de reconstrução da verdade.

 

Leia o artigo completo em: https://www.scielo.br/j/ref/a/fj3JtHZGBYcHgWMPPjZsHvs/#


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GIRO PELO VALE - Vale do Jequitinhonha de luto pela passagem espiritual da Professora Marizinha

    O Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais e a comunidade acadêmica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), está de luto. Lamentand...