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Seu
maquinista! Diga lá,
O que é que tem nesse lugar
(...)
Todo
mundo é passageiro,
Bota
fogo seu foguista
O coração de um brasileiro.( Pandeiro e Batucada – Rubinho do Vale)
Viajando por Francisco Badaró, conheci
muita gente com suas histórias, entre tantas, escolhi uma para partilhar sobre
a saudosa “Maria Fumaça”!
A linha férrea Bahia a Minas
começou a ser aberta em 1881, ligando
Caravelas, na Bahia, à serra de Aimorés, em Minas Gerais. Um percurso
construído para a instalação desta ferrovia que chegaria até Teófilo Otoni, em
1898. Estendeu até 1918, chegando em Ladainha. Depois em 1930 atingiu
Engenheiro Schnoor , e em 1941 na comunidade de Alfredo Graça, e,finalmente em 1942, no distrito sede de Araçuaí, que se escrevia “Arassuaí”. A
ferrovia originalmente pertencia à Provincia da Bahia; em 1897 passou a ser
propriedade do Estado de Minas Gerais, depois em 1912, passou a ser
administrada pelos franceses da Chemins de Fer Federaux de L'Est Brésilien até
1936, retornando nesse ano a ser uma ferrovia isolada. Em 1965, foi encampada
pela V. F. Centro-Oeste e extinta em
1966. Embora tenha havido planos para a união da ferrovia com a Vitória-Minas,
tal nunca ocorreu e ela permaneceu isolada.
Quem passa pela Estação Ferroviária de Alfredo Graça, localizada
numa comunidade rural de Araçuaí, cuja aglomeração se deve a linha férrea, pois o
nome “Alfredo Graça”, é em homenagem ao
responsável da construção da obra, inaugurada em 1940, mas com dístico na fachada constando
1942, provavelmente referência ao término da obra, pois a estação de Araçuaí
também consta a inscrição 1942.
Olhar para este
patrimônio em estado tão deplorável, nem imaginamos quantas histórias ficaram
soltas e assim como o prédio estão perdidas ou soltas nas memórias do povo que usufruiu
e daquelas que puderam viajar e desfrutar da paisagem exuberante, de matas e
descampados rochosos, margeando os rios da região.
E, para testemunhar este
cenário, encontrei na zona rural de São João, município de Francisco Badaró, Maria
da Consolação Pinheiro Santos, primeira professora desta comunidade. Ela
conheceu seu primeiro marido, Hilário Lemes dos Santos, nesta localidade,
namoraram, noivaram, mas por força de um pedido e exigência da tia e madrinha,
Jacinta Pinheiro que residia no município de Carlos Chagas, tiveram de realizar
um longo percurso, com seu futuro marido, mais os familiares deste jovem casal para
atender o desejo da tia e madrinha da
jovem.
Segundo ela, o trajeto
de partida foi a Estação Ferroviária de Alfredo Graça, que na ocasião, chovia
muito, obrigando as famílias a pernoitarem em alguns trechos até chegar ao
destino de Carlos Chagas. Finalmente casaram-se em 28 de Janeiro de 1966, na Igreja de São Sebastião, logo após os festejos o jovem casal e
parentes retornaram-se, utilizando-se do meio da linha férrea, sem saber que
esta seria uma das últimas viagens da
nossa “Maria Fumaça”.
As velhas estações esquecidas
pelo caminho, uma após a outra, com vestígios de seus pontilhões de ferro,
fabricados na Inglaterra, e túneis de ferrovia indicam o destino. Este era um
caminho de esperança, uma promessa de progresso, na economia de cada um dos
lugares que passava o trem. Mas o avanço da concorrência das rodovias, a falta
de planejamento e de investimentos públicos no setor ferroviário, além da má
gestão, corrupção, o governo militar de 1964 julgando que a estrada de ferro
estava infestada de comunistas, tudo isto contribuiu para o término da linha
férrea.
Agora, tem-se uma iniciativa da Rota
de Cicloturismo da Bahia-Minas que adapta
esporte com lazer, turismo e desenvolvimento sustentável em torno dos
caminhos percorridos pela linha férrea, alinhando-se
a uma nova idéia com o ecoturismo
e práticas de saúde e bem estar.
E assim,
fica a saudade de um tempo de fartura e movimento, que na composição
do cantor Pereira da Viola, lamenta
a perda da “Estrada de Ferro BahiaMinas”:
(...)
Vai embora Bahiaminas
Que as mocas lá da fazenda.
Apesar de solitárias
Te farão uma saudação
Vai embora Bahiaminas
Agradar revolução
Deixa esse povo do vale
Sem nenhuma condução
Você não tem culpa alguma
Pois você não pensa não
REFERÊNCIAS:
Contribuição
de Maria da Consolação Pinheiro Santos
Música de Rubinho do Vale: Pandeiro e
Batucada
Musica de Pereira da Viola: Estrada de Ferro
BahiaMinas
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Trilhos Arrancados: história da Estrada de Ferro Bahia e Minas (1878-1966).Jose
Marcelo de Salles Giffoni, UFMG, 2006
http://www.estacoesferroviarias.com.br/baiminas/alfredo.htm
www.rotabahiaminas.com.br
Vídeo: História da Ferrovia Bahia Minas -
Baiminas
https://www.youtube.com/watch?v=zMVJFaI_vD8
Video: Roteiro Estrada de Ferro Bahia
Minas
https://www.youtube.com/watch?v=OYV11DtFPWI