quinta-feira, 2 de março de 2023

DIÁRIO DE LEITURA


 Depois de um tempo de silêncio necessário na coluna, nada melhor que um texto sobre um dia de experimentação de um dos meus grandes desafios de vida: silenciar-me.


DAQUELE NOSSO SINGELO SILÊNCIO

 

Eu não sei calar.

Evidente que há momentos em que não falo. Por fora. Por dentro sou um turbilhão. Quase sempre, mesmo calada, eu estou falando.

Falar demais é um preço alto, porque não me esvazio. Talvez por isso, em mim, as coisas pareçam, às vezes, passar muito rápido. Porque ficam pouco.

Meus silêncios são sempre fortes. Porque eu não sei fazer silêncios. Quando eles existem, é porque não podem mesmo deixar de ser. É porque não há absolutamente nada dentro de mim que conheça de alguma forma a palavra daquele momento. E ele me sujeita a calar.

E não é uma estranheza de novidade. Às vezes, é um toque. É: o toque, já tão bem conhecido da pele. Um toque chega despretensiosamente, como um toque qualquer, e, então, arrebata um silêncio.

Pleno.

E o engraçado é que, quando o silêncio chega, é como se ele sempre estivesse ali. Eles. Neste caso, silêncio e toque. É como se sempre tivessem existido para ser aquele momento de sobrenadar.

É como se eu fosse desde sempre a espera deste quieto. E como se, a partir de então, eu não pudesse ser outra, mas apenas essa que o conhece.

O tempo acentuou meu desejo pelo silêncio. Sou uma busca, mal aplicada, e inglória, de falar menos.

Mas então veio o nosso. Curto e sob o céu nu. E depois dele, o que eu desejo mesmo, ao menos por um tempo, é apenas calar mais. E isso é só porque eu preciso serenar.

Sei que é um eufemismo bobo que espera não macular sua importância. É um medo de que os ruídos de menos acabem por banalizar a plenitude de calar. E que, silenciando demais, tudo se faça sossego, e eu me esqueça do torpor de que sobrepujar a inquietação é estar tão dentro de mim. E, dessa vez, e sobretudo, pelo outro.



Agenda

Na Noite de 10 de março, em Jequitinhonha, lançamento do livro “A Invenção das Coisas”, de Cláudio Bento, no Hotel Bela Vista



Por





Nenhum comentário:

Postar um comentário

MEMÓRIA CULTURAL - UM CASO DE AMOR NA ROTA BAHIA-MINAS

  Imagem: Internet   Seu maquinista! Diga lá, O que é que tem nesse lugar (...) Todo mundo é passageiro, Bota fogo seu foguista ...