Na coluna de hoje ficamos por conta do livro Olhos d’agua da autora Conceição Evaristo, nascida em 1946 em uma favela (Pindura- saia) da capital mineira. Foi babá, empregada doméstica e faxineira. Formou-se em Letras na UFMG, mestrado e doutorado no RJ e é a maior escritora de estudos afro-brasileiros do Brasil.
Lançada em 2014, essa coleção de 15 contos abordam num contexto critico o racismo, violência física, psicológica da mulher negra, condições sociais, marginalização do negro, fascismo, misoginia, exclusão e ao mesmo tempo esperança de estancar o sangramento que tudo isso causa nos dias atuais.
Nesse livro, a autora com suas narrativas transforma uma realidade marginalizada e excludente, em literatura e denuncia as consequências dessa exclusão e da discriminação sem deixar morrer a esperança de que um dia isso possa ser diferente. Obra essa, que narra à fome, a miséria, a violência, o genocídio do povo negro e dá voz às mulheres negras e suas vivências. Sem esquecer-se de também mostrar os laços afetivos dos personagens, seus conflitos internos, reflexões e a ancestralidade.
O conto que dá nome ao livro e o inicia é movido pelas recordações de uma personagem que busca se lembrar da cor dos olhos da mãe que está distante. É poético, delicado, e ao mesmo tempo afetuoso, apesar das memórias narradas denunciarem as dificuldades passadas por essa família. Essa é uma das muitas histórias desse livro que trata sobre maternidade e ancestralidade.
A mulher negra tem muitas formas de estar no mundo (todos têm). Mas um contexto desfavorável, um cenário de discriminações, as estatísticas que demonstram pobreza, baixa escolaridade, subempregos, violações de direitos humanos, traduzem histórias de dor e sofrimento.
Ao não explorar esses casos como meras manchetes, a escritora intensifica o incômodo e faz com que ele dure além do tempo de leitura do conto. Ela evidencia o que é brutal e a consequência da naturalização disso sem tornar seus personagens objetos. O conto “Maria”, “Ana Davenga” e o “Ei, Ardoca” são bons exemplos disso, porque nos apresentam histórias que facilmente estariam no jornal sendo contadas de outra forma.
O que a personagem escreve é uma amostra do mundo que a circunda e que Conceição expõe. Entre as tantas frases bonitas, bem feitas, cheias de sonoridade, há também a denúncia de qual é a linguagem que cerca as crianças negras que protagonizam essas histórias.
Link para baixar
Nenhum comentário:
Postar um comentário