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Foto: Angela Freire |
Uma construção no alto de morro, da Rua
Aimorés, próxima a Igreja Matriz de Araçuaí, em estilo singular, numa arquitetura vernacular, encontra-se a
Capela de Santa Cruz. Ela sofreu durante muitos anos, com o isolamento que
provocou processo de arruinamento, mas
no bojo das memórias, não faltaram histórias para compor a sua existência
neste local.
Nunca
houve nenhum estudo, que comprovasse a verdadeira origem deste templo. Mas as
fontes orais não permitiram o
esquecimento deste bem, segundo João Guimarães Rosa: “Só sabemos de nós mesmos
com muita confusão”. Então temos de reconhecer que a comunidade constrói o saber que a sustenta, e o saber da
religião popular é uma memória salva pelas redes sociais de trocas e a religiosidade popular não é acervo
histórico, mas manifestação de vida, ao qual a vida social não pode ser
explicada unicamente pela concepção dos que dela participam, já que há causas
profundas que escapam à consciência dos falantes.
Na
busca para se explicar a Capela de Santa Cruz, a oralidade popular nos oferta
algumas versões, das quais mencionamos algumas mais freqüentes, entre as
pessoas mais velhas, que ouviram falar sobre esta capela:
I.Teria sido local de sepultar pessoas que
cometiam suicídio. Antigamente a Igreja Católica não permitia sepultar os
suicidas com outras pessoas, pois consideravam o cemitério da cidade, como “campo
santo”, por isso não podia macular o lugar, enterrando pessoas que cometeram
tal pecado.
II. Em frente à capela, havia um cruzeiro com
os símbolos do martírio de Cristo. Por isso contavam que o templo, servia para
guardar os objetos da semana santa. Relata
inclusive um episódio, decorrente a uma das enchentes que assolaram a cidade,
todos os paramentos, alfaias e imagens foram perdidas, e, o esquife com Senhor
morto, teria sido encontrado chegando no encontro das águas do Araçuaí, com o
Jequitinhonha. Na ocasião
os Franciscanos mandaram construir a
Capela de santa Cruz . Havia inclusive a celebração em 3 de Maio, anualmente,
para comemorar a festa de Santa Cruz. A programação era composta de terço,
procissão, o cruzeiro e a capela eram iluminados com lamparinas de azeite.
III. A mulata Luciana Teixeira,
fundadora da cidade, teria erguido a capelinha no alto do morro, para poder
rezar. Após o desentendimento com o Padre em Itira, não podia entrar em nenhuma
igreja católica. Havia a restrição, quanto às
prostitutas, elas não podiam entrar em igreja, por estarem vivendo em
pecado. Mesmo sem o vigário, era
celebrada a festa de Santa Cruz, no dia 3 de Maio.
Tal
devoção possui raízes em Portugal, prática religiosa que persiste por alguns
lugares do país. A festa de santa Cruz,
caiu no esquecimento, mas a capela ainda resiste a um passado de muitas
histórias que o povo conta e reconta, em
suas diferentes versões.
Dizem
ainda que, havia o costume no dia da
festa de Santa Cruz, o povo ao redor do cruzeiro , fazia a penitência de cem
vezes ajoelhar-se e levantar-se, fazendo o sinal da cruz a reza:
Alma
minha, ponha-se rígida e forte, que a morte é certa e ela virá. No caminho
encontrará o inimigo da alma e assim dirá: Arreda Satanás, que em mim em parte
nenhum não terá. No dia de Santa Cruz, cem vezes me ajoelhei, cem vezes me “apelosinei!”
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