Festivale – um sonho real de 40 anos
Valdeci Paulo de Souza, mas conhecido como “Tiburcim”
natural de Salinas, Jornalista e Diretor Geral na
empresa Jornal
Tribuna do Norte, agente cultural, produtor cultural e ex diretor executivo
adjunto da FECAJE.
O
ano de 1979 foi um dos anos mais marcantes na minha mundana vida. Depois de
cinco anos em São Paulo, em plena ditadura militar um dito caipira do norte de
Minas, impuro e numa outra realidade social chega na metropole para estudar e
trabalhar, construir o sonho de ser diferente, ganhar dinheiro e fazer a vida
como todos diziam.
Cursei
o segundo grau em Sampa nos áureos anos de tempos escuros do golpe militar e
todos vigiados, passei ali um duro aprendizado social e politico que provocou o
meu retorno a Minas, passando por Belo Horizonte e retornando a Salinas, onde
virei funcionário público dos correios, ativista social, politico e cultural,
aliado a prática do futebol tornei “boleiro” amador disputando campeonatos em
Salinas e cidade vizinhas, o que levou a
buscar alternativas sociais de envolvimento de jovens da nossa geração em novas
ideias e projetos de vida.
Nesse
tom de rever a história, costumes, cultura popular, crenças e vida de um lugar
e região sempre marcadas pelas pequenas iniciativas e necessidades, aliado ao
espírito e ação de abnegados, pioneiros de berço que buscam sempre novos
caminhos para os sonhos e projetos de vida, nos envolvemos com a primeira
iniciativa de cultura de massa que foi o
1º Encontro de Musica de Itaobim, que intrinsicamente trazia ali, o iluminado Tadeu Martins, a
mecha de um projeto que de devaneios e
sonhos se tornou o embrião do renascimento e bandeira sociocultural de uma
região marcada pelo esquecimento, que foi a cultura popular, mais tarde o
Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha, Festivale, que de fato, é
um sonho real de 40 Anos, vivo e ainda contagiante..
Nesse
projeto voluntarioso que é o Festivale, me orgulho de ser um dos pioneiros,
participante, de ter vivido meia vida, da minha singela contribuição, e o
impulso que a cultura teve na minha atividade cotidiana, de definição da
profissão, de ampliação de amizades e ter conhecidos pessoas maravilhosas e
diferentes, e talvez, o mais destacado, a participação e envolvimento num
projeto de integração e desenvolvimento regional a partir da cultura. Foram
muitas descobertas e o saldo é positivo, pois, avançamos em várias ações em
Salinas com a criação do Centro Cultural, Cine Clube de Salinas, de
correspondente do Jornal Geraes, e a realização de eventos com mostra de
artistas e músicos regionais integrando a cidade a arte e cultura do vale.
Dentre
as minhas participações e observância nos festivales os frutos ainda que
tímidos são louváveis, e merecem destaque como o impulso dado a musica
regional, a revelação e personificação de talentos musicais, artísticos,
literários, do teatro, o folclore, o artesanato dando cara e identidade a
região como referencia de uma cultura popular única em Minas.
Ilustram
também a memória de todos os personagens, figuras pitorescas, personalidades
que automaticamente se tornram ícones, ídolos e referencias no movimento como
Saulo Laranjeira, Paulino Pedra Azul, Rubinho do Vale, Lima Junior, Valter
Dias, Lira Marques, dona Isabel, Ulisses de Itinga, Seu Ulisses de Carai, Coral
Trovadores do Vale, Lodonio Figueredo, Marcio Artesão, Zefa, Gonzaga Medeiros,
Carlos Farias e Coral Lavadeiras de Almenara, Celia Mara, Pereira da Viola,
Tadeu Martins, Tadeu Franco, Guilardo Veloso, Vilmar Oliveira, Chico Rey,
Magela, João Lefu, Eros Januzi, Claudio Bento, Tiburcim, Jota Neris, Frei Chico
e muitos outros, juntos a nova geração liderados por Marcos Gobira, Angela
Freire, Dim Martins, Jô Pinto, Zé Augusto, Nilson, Luiz Santiago, Luciano
Tanure, Nino Aras, que são resultados e criadores dessa nova realidade
regional, a cultura popular como a mais importante expressão do Vale.
Destaco
alguns festivales como marcantes e importantes na nossa participação e pequena
contribuição na sua realização, e também pela beleza, organização e iniciativa
num projeto de continuidade e preservação, o 1º Festivale de Itaobim, quando
revelou a Minas uma nova cara do Vale do Jequitinhonha, o 6º e 23º Festivale em
Salinas, 1985 e 2004, o 18º em Itinga, em 1998, o de Jordânia e Medina em 2013.
Nesses
eventos tive participação direta na organização, com destaque para os
festivales de Salinas, como resultado do nosso trabalho cultural na cidade. O
de Itinga, que junto com o então presidente Marcos Gobira, conseguimos
viabilizar os recursos. O de Jordania pela participação como diretor da Fecaje,
jornalista e apoio na realização. Em Medina tive o orgulho de ser jurado no
festival da canção, e ali também na programação criar o “Tibastur”, o projeto
caravana da arte, prestigiando a história e arte local com visita a comunidades
recheada com apresentações artístico-culturais.
Ressalto
ainda o 18º Festivale de Itinga como um dos mais belos na organização, simplicidade
do movimento, panorama e clima da linda cidade dividida pelo Rio Jequitinhonha
e suas belas praias, o alto nível do festival da canção, o sinal de começo de
um novo tempo no movimento, em especial, o envolvimento social da comunidade no
evento.
A
presença da TV Assembleia no evento, uma iniciativa nossa, produziu imagens e
um vídeo que é um marco do documentário e registro do Festivale, editado pelo
jornalista Marcio Metzker, que retrata em detalhes a beleza e encantamento do
evento, que passo a todos essa rara oportunidade.
Então
desse projeto de encontro comunicação, de música e ativismo na pequena Itaobim
de 1979, surgiu não somente uma obra sociocultural de marca de uma região, de
expressão viva e referência única de uma cultura popular rica, colorida, bela e
representativa que é o Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha,
Festivale., cujas lembranças e fatos são documentos e histórias que
merecem o melhor registro e narrativa
tal a riqueza de detalhes simbolizadas na liberdade, sem preconceito e de arte
popular, mas que também apontou caminhos, trilhas, gente nova, conquistas
sociais e uma nova modalidade de vida em toda região.
Como
pioneiro, apreciado do movimento, agente cultural sugiro como propostas à
preservação e consolidação desse projeto que trouxe junto com os sonhos uma
nova realidade a região, a coordenação do movimento, a Fecaje, as seguintes
questões a analisar como a elaboração de um plano de ação administrativo, de
finanças, de projetos, de autosustentação como sócio contribuinte, produção e
comercialização do material do festivale e cultura regional, buscar parceria
com as prefeituras municipais como meta de ampliar a integração, criação de
caravanas culturais, cadastro e registro de entidades regionais do movimento
popular, produção de cds, documentários, souvenires, transformação da Fecaje
numa ONG, profissionalizar gestores e criar quadro de funcionários com metas de
fazer cultura gerando renda. È preciso o apoio do poder público, claro que sim.
Mas é necessário de buscar solução de efetivar e institucionalizar o Projeto
Festivale, e assim despregnar do “peleguismo publico” como única alternativa ao
improviso, do voluntarismo, mas de financiamento e sobrevivência do movimento.
Como
agente cultural me orgulho do rastro deixado, criei vários projetos em Salinas
com eventos poéticos, literários, musicais e discussões, e no jornalismo tenho
documentado quase 95% dos festivales, fui em 33 dos 37 realizados, feito
reportagens especiais, e na carona do movimento nos referenciando e fincando
raízes em todos os rincões do Vale.