quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

DIÁRIO DE LEITURA - Lançado o Livro " Um Projeto de Província nos Sertões" de Juliana Ramalho


Meu nome é Juliana Pereira Ramalho. Nasci em uma comunidade rural chamada Lages, no atual município de Ponto dos Volantes, localizado no médio Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Na Universidade Federal de Viçosa, fiz a graduação em História e mestrado em Extensão Rural. E, o meu doutorado foi realizado na Universidade Federal de Ouro Preto, no programa de Pós Graduação em História.
Este livro, que hoje tenho o prazer de apresentar ao público, é a concretização de um sonho que nasceu ainda na minha adolescência nos idos anos da década de 90, do século XX. Naquela época, quando cursei o ensino médio e fundamental, não encontrei nos livros didáticos a história da região em que eu vivia, com exceção do distrito diamantífero. Isso me intrigou e me levou a indagar sobre a história do local em que vivíamos.
Lembro-me que um dia, ao faxinar a casa de uma vizinha que é muito amiga da minha família, encontrei um livro de poemas, de autoria do Victor Alves Cardoso, um poeta da cidade de Ponto dos Volantes. Neste livro, o autor aborda de forma poética alguns traços identitários da cidade de Ponto dos Volantes, que naquele período era distrito da cidade de Itinga. Ao degustar as páginas do livro, vi nascer o desejo de me aprofundar no conhecimento da história da nossa região.
Outro momento marcante na construção do meu interesse pela história regional do Vale do Jequitinhonha ocorreu em 1995, ano da emancipação da cidade de Ponto dos Volantes. Lembro-me que a professora Leila Sicupira, que na época, lecionava a disciplina de Geografia na Escola Estadual Alonzo Barbuda, desenvolveu com seus alunos (dentre os quais eu me incluía) uma atividade que consistia em uma pesquisa em grupo acerca da história de Ponto dos Volantes. Como não havia registro documental sobre a cidade que surgia no horizonte dos novos municípios mineiros, entrevistamos os moradores mais antigos do distrito, fortalecendo em mim a curiosidade pelo conhecimento histórico e o prazer da descoberta.
Tais experiências reverberaram em minha vida acadêmica ao cursar história, na Universidade Federal de Viçosa. Como trabalho final do curso de bacharelado em História, optei por realizar uma pesquisa sobre a identidade rural nas músicas regionais do Vale do Jequitinhonha. A pesquisa sobre o Jequitinhonha foi ampliada no mestrado em Extensão Rural, quando elegi como objeto de estudo a cadeia produtiva do artesanato em cerâmica e madeira, produzido na região.
Naquela ocasião, idos de 2007, pesquisando as teias de produção e consumo do artesanato, a atenção voltou-se ao estreito vínculo entre os artesãos, ao meio rural e às comunidades indígenas e quilombolas. Ao realizar o percurso na análise historiográfica acerca das comunidades rurais do Jequitinhonha, com o intuito de problematizar os artesãos dentro do seu universo produtivo, pôde-se diagnosticar que o acesso a terra para os artesãos, mesmo para aqueles residentes no meio urbano, era crucial para a atividade artesanal.
A questão da terra saltou, portanto, aos olhos da pesquisadora, como um problema a ser investigado. Apesar de muitos sociólogos e antropólogos discutirem a questão da migração e da concentração fundiária como fruto das transformações econômicas e sociais ocorridas no Jequitinhonha, a partir do século XX, fato intrigante foi que, desde os anos de 1980, os conflitos de terra e as reivindicações sindicais pela melhor distribuição da terra no Jequitinhonha era temática de discussões locais, conforme se pode analisar nas páginas do Jornal GERAES, que se sobressaiu no Vale do Jequitinhonha na década de 1980. Nos anos de 1980, o Jequitinhonha também foi palco das primeiras organizações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Isso significou, portanto, que o acesso a terra no Jequitinhonha era algo que carecia de um estudo histórico para além do século XX, a fim de problematizar as raízes estruturais das desigualdades sociais, econômicas e os conflitos daí decorrentes que, até os dias atuais, permeiam a vida de muitas comunidades rurais, quilombolas, indígenas e migrantes do Jequitinhonha, espalhadas pelas periferias das cidades do Brasil. Ao fazer tais constatações, iniciei uma pesquisa que foi desenvolvida no doutorado na Universidade Federal de Ouro Preto e que resultou no livro “ Um projeto de Província nos sertões: terra, povoamento e política na freguesia de São Pedro do Fanado de Minas Novas – Minas Gerais (1834-1857).
Neste livro, o leitor vai se deliciar com a história da região que constituiu os vales do Jequitinhonha e Mucuri, no nordeste mineiro, que no século XIX fazia parte de um único município – o município de Minas Novas. Vale mencionar que o município de Minas Novas do século XIX congregava produtores agrícolas e criadores de gado interessados em explorar a mata Atlântica que circundava o município e que era habitada por diversos grupos indígenas. Para viabilizar a expansão agrária e deter o poder sobre essas terras, os exploradores do município de Minas Novas reivindicaram maior participação no governo central do Império ao propor a criação de uma nova província – a província de Minas Novas.
Desejo aos leitores uma boa leitura e que o conhecimento do passado os leve a problematizar a nossa realidade que é uma construção feita por homens e mulheres e, que por isso, não é natural, o que nos torna sujeitos históricos na manutenção ou na transformação da realidade em que estamos inseridos.
A aquisição do livro impresso poderá ser feita pela editora Paco editorial no site https://www.pacolivros.com.br/Terra_Povoamento


E, para aqueles que se interessam pelo livro digital, a aquisição do ebook poderá ser feita nos seguintes sites:


Texto: Própria autora a pedido do  Jô Pinto para o blog.

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