terça-feira, 18 de junho de 2024

MEMÓRIA CULTURAL-Salve as Sempre-vivas

 

Foto: Ângela Freire

              Neste mês de Junho,   visitando uma comunidade rural, em Diamantina, num roteiro que abrangeu o alto, médio e baixo , Vale do Jequitinhonha . Conheci a comunidade Macacos fica no distrito de São João  da Chapada. Um percurso de aproximadamente entre Diamantina e o distrito cerca de 56 km e depois mais 23 km até a comunidade de Macacos, um  longo  trajeto de estrada de terra com estrada estreita e em regular estado de conservação, porém com uma vista panorâmica  da Serra do Espinhaço é exuberante.

              Segundo as mulheres da Associação comunitária desta comunidade, relatam que o povo dali descendem de índios, pois é comum alguém contar história de índio pego no laço. Mas também contam sobre a descendência portuguesa e de negros, assim possuem relações de parentesco, amizade e compadrio entre si. O fato que a formação sociohistórica da Comunidade está atrelada ao desenvolvimento da atividade de extração mineral que estruturou econômica e socialmente o distrito diamantino a partir dos séculos XVII/XVIII, como parte do colonialismo europeu nas Américas. Contaram ainda  que,  o nome Macacos, vêm do nome da fazenda  pertencente ao português José Manoel Joaquim de Vilas-Boas e a Ana Rosa.

             Atualmente  residem poucas famílias  no lugar, mas em ocasião de festas religiosas tradicionais,   se encontram para festejar. Além do trabalho na lavoura  o que é destaque nesta comunidade é o Sistema Agrícola tradicional dos Apanhadores e apanhadoras de flores Sempre-vivas( SAT Sempre vivas) , reconhecido pelo IEPHA –MG desde 2018. Seus habitantes detem prática e profundo conhecimento quando a colheita das flores, uma ação realizada coletivamente em algumas épocas do ano, marcada pelo deslocamento de suas residências para subir a serra e alojarem-se  em “locas” de pedras com seus familiares com a finalidade de colher as flores de sempre vivas. Deste modo não apenas são responsáveis pela atividade da colheita, mas o movimento  das descidas da serra, a forma como apanham as flores, viram verdadeiros guardiões e guardiãs deste movimento secular que desencadeia numa espécie de semeadores de flores, pois a partir deste fluxo é que se garante as  futuras colheitas.

              Embora sofram com os conflitos quanto as  questões da regularização fundiária, sofrem com as ações arbitrárias  quanto ao manejo do ecossistema por órgãos do governo , seus habitantes lutam e resistem  aos descompassos  e a presença humana que destrói e desconhece as sabedorias  e práticas seculares. Os moradores seguem sua luta, com o  encorajamento de suas matriarcas  em defesa de suas flores e sobrevivência humana.



 

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