Sempre que pensamos a questão étnico-racial, o foco é nas pessoas não brancas e nas formas de opressão que sofrem ao longo do tempo. Entretanto, convém perceber que, se determinados grupos são racializados em negativo, e logo, prejudicados, significa que há os que são racializados em positivo e beneficiados no decorrer da história. Tive acesso a essa mudança no ângulo de análise das questões raciais a partir de livros que problematizam a branquitude, que expõem sua construção, que a desnaturalizam como norma hegemônica. Nos últimos anos temos ouvido de lideranças negras, que a questão do racismo não pode ser considerada um problema dos negros e indígenas, e sim dos brancos, afinal, foram eles que inventaram o racismo e o mantém em funcionamento. Portanto, é necessário que os brancos que se pretendem antirracistas primeiramente reconheçam que desfrutam de privilégios em relação ao demais grupos racializados. Maria Aparecida Bento é uma importante referência na compreensão da branquitude e do pacto não verbalizado que os brancos estabelecem entre si com prejuízo dos demais grupos étnicos. A autora é doutora em Psicologia e há anos se dedica à pesquisa sobre o racismo em empresas e organizações. Em 1991 ajudou a fundar o Centro de Estudos das relações de trabalho e desigualdades (Ceert) instituição que atua no sentido de promover a diversidade no interior de grandes empresas e corporações. No livro “O pacto da branquitude” Cida Bento analisa como, ao longo do tempo, os brancos construíram estratégias para manter suas vantagens em relação aos negros, ao mesmo tempo em que silenciaram sobre as ações anti-humanitárias cometidas pelos seus antepassados, cujos frutos de privilégios são colhidos ainda hoje. Ao longo da pesquisa a autora percebeu que os negros e negras são rejeitados no mercado de trabalho em benefício dos brancos, há acordos tácitos entre os brancos em priorizar indivíduos do mesmo grupo racial na hora da contratação, progressão na carreira ou acesso a cargos e salários elevados. A justificativa mais usada é a da meritocracia. Bento traz vários exemplos ao longo da história que exemplificam como esse pacto têm funcionado no Brasil, dentre eles: A lei de terras que favoreceu o acesso à terra aos brancos em 1850, impossibilitando sua aquisição aos negros no momento em que o tráfico negreiro foi proibido, a lei de imigração que priorizada europeus brancos. Me lembrei do código penal de 1890 que criminalizava o candomblé, a Capoeira como estratégias para encarcerar a população negra na Primeira república. Atualmente, temos outras estratégias para a manutenção dos privilégios dos brancos em detrimentos dos demais grupos racializados. Isso mesmo, o racismo se readapta a cada contexto e se faz eficaz na manutenção da desigualdade. O livro “O pacto da branquitude” é uma importante contribuição para abalar as bases do racismo estrutural. Boa leitura!
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