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Reunião da CEBs em Taquaral - Arquivo: Jô Pinto |
Revirando meus arquivos impressos de fotografias
encontrei essa foto ( capa da coluna) no centro da foto de calça azul claro e blusa
branca com um listra é minha mãe , Maria Pereira dos Santos Pinto, mas
conhecida como “Lilia Carnaval”. Essa
foto é um registro das inúmeras reuniões
do qual ela participava como uma das leigas voluntárias das comunidades
eclesiais de base (CEBs).
Mediante dessa foto, me veio às recordações
da importância que se tem uma igreja em saída, uma igreja que esta junto do
povo, lhes ouvindo e os ajudando a se organizarem para ter uma consciência política
coletiva. Onde essa consciência perpassa pelo entendimento que o poder é do
povo e emana do povo e não dos que fazem da política um joguete de poder em benefícios
próprios.
Eu
e minhas irmãs tivemos a honra de poder participar junto com nossa mãe de inúmeras
reuniões de formação de Fé e Política através da CEBs e o quanto estes momentos
foram fundamentais para despertar a consciência política com justiça em cada um
de nós.
Acredito que a política é uma ferramenta poderosa
contra as injustiças, mas a maioria da população ainda não tem essa consciência
e desconhece o poder que tem o seu voto. E quando esse barganha seu voto em benefícios
próprios ele esta contribuindo para o enfraquecimento da nossa democracia.
Minha mãe junto com outros ajudaram
através da CEBs, nas décadas de 1970 e 1980 a organizar varias comunidades no município
de Itinga, incluindo a comunidade de minha família, comunidade de Jenipapo
Pinto ( hoje reconhecida como comunidade quilombola). A organização dessas
comunidades além de fortalecer a Fé através da palavra do evangelho nos cultos,
no qual muitas vezes eram ministrados por leigos, também se ouvia as
comunidades e lhes preparavam para ter uma consciência política de união e reivindicação
de direitos.
Em minha opinião como cristão católico,
percebo que a Igreja deixou de ser em saída com o passar do tempo, o que enfraqueceu a formação política através da fé,
onde os valores de humanidade, sociedade e coletividade eram pilares.
Vejo hoje nas falas do Papa Francisco uma
esperança de termos de volta uma Igreja em Saída, onde a teologia da libertação seja feita de forma
pratica.
“Envolver-se na política é uma obrigação para o Cristão.
Nós cristãos não podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos, não podemos!
Temos de nos meter na política, porque a política é uma das formas mais altas
de caridade, porque busca o bem comum. Os leigos cristãos devem trabalhar na política.”
Papa Francisco
Por
Segue abaixo um texto contado um pouco da história da CEBs,
publicado no site: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/comunidades-eclesiais-de-base-cebs
As
comunidades eclesiais de base (CEBs) são organismos da Igreja Católica que se
caracterizam por: (a) celebração dominical realizada por leigos ou leigas; (b)
ampla participação na tomada de decisões, geralmente por meio de assembléias; e
(c) ligação entre a reflexão bíblica e a ação na sociedade.
Antecedentes
O
período de preparação do Concílio Vaticano II (c. 1960) favoreceu as
iniciativas que buscavam uma estrutura eclesial mais adequada ao diálogo com o mundo
moderno do que a paróquia, organismo medieval no qual todas as funções
religiosas recaíam sobre o padre. Nesse contexto, as “pequenas comunidades”
pareciam ser o meio mais favorável à participação leiga na Igreja e à sua
influência na sociedade urbana e industrial. Em 1968 a II Conferência dos
Bispos da América Latina, reunida em Medellín Colômbia, propôs a Comunidade
Eclesial de Base (CEB) como seu principal instrumento pastoral, ligando a forma
comunitária à opção preferencial pelos pobres. Formulou‑se então a
Teologia da Libertação que, retomando experiências ensaiadas desde os anos
1950-1960 na Ação Católica, no Movimento de Educação de Base e em outros
setores renovadores da Igreja, inclusive em denominações protestantes,
fundamentava uma ação pastoral comprometida com as causas populares.
Desenvolvimento
As
CEBs nasceram numa conjuntura sociopolítica marcada pelo regime militar
autoritário e pelo conseqüente fechamento dos canais de participação política.
Reagindo contra ele em nome dos direitos humanos, a Conferência Nacional do
Bispos do Brasil (CNBB) deu cobertura institucional às CEBs e às pastorais
(Indigenista, da Terra, Operária, da Juventude), mais sujeitas à repressão
policial militar. Assim, nos anos 1970 e no início da década seguinte muitos
setores sociais encontraram nas CEBs seu espaço de atuação política, embora
elas não deixassem de ser espaços propriamente religiosos.
As
CEBs se formaram, de modo geral, em regiões cuja população não era
freqüentemente atendida pelo padre. Dadas as grandes extensões territoriais ou
demográficas de muitas paróquias rurais e de periferia urbana, a Igreja
Católica passou a estimular leigos e leigas a assumirem por si mesmos os
serviços religiosos em sua comunidade. Ocupando uma posição de liderança religiosa,
essas pessoas tenderam a assumir também um lugar de destaque no sistema de
poder local. Inspirados por uma leitura libertadora da Bíblia que fala do
Reino de Deus já na História, os membros das CEBs procuraram realizá‑lo atuando
em movimentos sociais, associações de moradores, sindicatos e partidos
políticos, assumindo normalmente posições que podem ser caracterizadas como de
esquerda pela valorização do igualitarismo, da democracia direta e da
utopia socialista, o que explica a afinidade de muitos de seus membros com o
Partido dos Trabalhadores (PT), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Central de Movimentos
Populares.
A
partir de 1979, início do pontificado de João Paulo II, ganhou força o
movimento restaurador que, controlando a Cúria romana, favoreceu os setores do
episcopado que preferiam ver a Igreja distante dos movimentos populares e
voltada unicamente para as atividades de culto e catequese. Desde então, as
CEBs vêm perdendo sua caixa de ressonância na sociedade: a voz dos bispos e
teólogos oficiais. Continuaram, contudo, ativas em seu trabalho de base,
organizando grupos que unem a fé cristã à atuação sociopolítica na comunidade
local. Têm hoje menor visibilidade social e menor influência institucional do
que nos anos 1980, mas não deixaram de formar lideranças populares atuantes em
movimentos sociais, sindicais, políticos e culturais.
Organização
Grupos
locais cujo alcance confunde‑se normalmente com a vizinhança ampliada (bairro,
vila ou morro nas periferias urbanas; vilarejo, patrimônio ou colônia na
zona rural), as CEBs não seguem um modelo fixo, amoldando‑se a diferentes
contextos socioculturais. Em periferias urbanas podem congregar mais de mil
famílias, com inúmeros pequenos grupos: de reflexão bíblica; de liturgia,
catequese e outros serviços, grupos específicos (de vizinhos, jovens, mulheres,
operários, negros...) e ainda associações piedosas ou caritativas. Já nas zonas
rurais costumam ser pequenas e de pouca diversificação interna.
Embora
faltem dados estatísticos precisos, pode‑se estimar em cerca de 60 a 80 mil
(dez vezes o número de paróquias) as CEBs hoje espalhadas pelas quase 250
dioceses do Brasil. Dada sua condição de unidades básicas da Igreja e espaço
para a celebração dos sacramentos, elas subordinam‑se ao bispo local. Não se
confinam, contudo, ao âmbito diocesano: uma ampla rede de relações coloca-as em
interação e evita seu isolamento. A trama mais importante dessa rede é
constituída pelos encontros intereclesiais, iniciados em 1975 e realizados a
cada três ou quatro anos. A cada encontro é proposta uma temática específica
para ser debatida em nível local, diocesano e regional em preparação ao
encontro nacional, sempre usando o método “ver/julgar/agir/avaliar”. Tal
método obriga que se tome como ponto de partida a experiência das comunidades,
produzindo‑se então uma afinidade fundada no consenso em torno de certas
práticas pastorais e sociais — é o que se chama “caminhada”. Sendo livre a
adesão a esse consenso, ele permite diferenças entre as comunidades plenamente
identificadas com a pastoral libertadora e as que dela se distanciam.
A
rede das CEBs não tem dirigentes ou organismos coordenadores. Aliás, elas não
têm estatuto jurídico, embora sejam oficialmente reconhecidas pela CNBB e por
documentos pontifícios. Sua articulação se dá de modo informal, no próprio
processo de preparação de cada encontro intereclesial. Uma equipe local
funciona como secretaria executiva, enquanto um grupo de representantes regionais
funciona como instância deliberativa nacional. Ambas contam com a participação
de bispos e assessores teológicos que asseguram sua ligação com outras
instâncias eclesiásticas. Organização análoga ocorre nos níveis regionais e nas
dioceses, onde os representantes das bases locais formam equipes encarregadas
de promover seus encontros, sem, contudo, interferir no cotidiano de cada
comunidade, autônoma por natureza.
Essa
organização, contrastante com a estrutura medieval e monárquica do catolicismo
romano, foi definida em documento da CNBB como uma nova forma de ser Igreja.
Sua originalidade reside no fato de que, ao realizarem as atividades
pastorais habituais de modo popular e participativo, as CEBs rompem a relação
clerical e introduzem na Igreja Católica um outro modo de agir. Na medida em
que essa forma peculiar de ação social desdobra‑se para fora delas, as CEBs
passam a contribuir também para a renovação do cenário sociopolítico
brasileiro, incorporando‑lhe a prática participativa e igualitária desenvolvida
a partir da experiência comunitária nas bases populares.
Pedro
A. Ribeiro de Oliveira colaboração especial
FONTES:
BOFF, C. Comunidades; BOFF, L. Eciesiogênese; CNBB. Comunidades;
TEIXEIRA, F. Encontros.