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Na semana passada, li o
livro “A cor da ternura”, da escritora Geni Guimarães. Ainda não a conhecia,
apesar de que, há algum tempo, priorizo livros escritos por mulheres e nos
últimos anos dou primazia aos escritos das mulheres negras. Tal opção tem como
objetivo preencher uma lacuna na minha formação enquanto leitora, num país em
que racismo e sexismo se interseccionam, fazendo com que as produções culturais
e acadêmicas das pessoas negras, em especial das mulheres negras sejam
invisibilizadas. Tal apagamento se insere num conjunto de práticas que
constituem o epistemicídio, o aniquilamento físico e intelectual do povo negro,
para favorecer o grupo racial dominante, conforme define Sueli Carneiro em sua
tese de doutorado. Entretanto, ainda não havia ouvido falar de Geni Guimarães,
mesmo que seu livro “A cor da ternura” tenha sido laureado com o prêmio Jabuti,
importante reconhecimento, além de outros prêmios. Geni Guimarães nasceu em
1947 no Estado de SP e publicou seu primeiro livro de poemas, “Terceiro filho”,
em 1979. A autora tem vasta produção, bem como uma trajetória ligada à luta
contra o racismo e em favor do povo negro. Mas aqui quero falar sobre minha experiência de leitura do livro “A cor
da ternura”. O que me conectou ao texto logo no início da leitura foi a relação
da protagonista com a mãe, aspecto que permeia o texto com muita sensibilidade
e carinho, remetendo-me à minha própria infância e ao apego que tinha com minha
falecida mãe. A escrita é fluída e de fácil compreensão, porém tais
características não deixam o texto superficial, pelo contrário, são muitas as
camadas de sentidos, sem falar na narrativa poética que ela tece. Fiquei
encantada com a forma como Geni Guimarães construiu uma perspectiva infantil
das desigualdades raciais, mas sem ignorar aspectos, como a simplicidade e a
inocência da infância. A trama caracterizada como escrevivência mostra a
trajetória da jovem professora negra desde a infância, as relações familiares,
a chegada de mais um irmão, o ingresso na escola e a forma como o racismo está presente
naquele universo, afetando a subjetividade da narradora. Não vou dizer mais sobre o livro,
para não atrapalhar a leitura que vocês certamente farão. Enquanto isso
buscarei, sem mais perda de tempo, conhecer os demais livros dessa importante
escritora brasileira, cuja escrita quebra o racismo, como ela mesma
disse na 7ª edição da Olimpíada
Brasileira de Língua Portuguesa: “Está
tudo contra nós, mas nós estamos a favor (...). Com as nossas histórias estamos
construindo a verdadeira abolição.”
Por
Uau. Amei. Quero ler. Já tinha escutado o nome da obra e da autora, mas não conhecia a sinopse. Parabéns por conseguir fazer a resenha, sem deixar "spoilers".
ResponderExcluirObrigada Thaisa, vale a pena ler. Geni é maravilhosa!
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