O ofício de motorista de ambulância merece nossas
considerações, pois são trabalhadores que lidam com a fragilidade das pessoas
entre a morte e a vida.Atualmente muitas estradas estão sendo recuperadas, a
manutenção ocorre com mais freqüência e existem mais funcionários para esta
função. Porém antigamente o número era reduzidíssimo.
Ouvi de um
motorista experiente, um episódio ocorrido com seu colega, pelos anos da década
de 1990.
Um motorista
de ambulância de uma cidade do interior mineiro, foi levar um doente à Belo
Horizonte. Após a internação do paciente, preparava-se para retornar, quando um
enfermeiro veio ao seu encontro, para avisar-lhe que acabara de falecer um
paciente da sua cidade.
Naquela época não havia tantos protocolos, o pobre falecido,
nem sequer caixão lhe dera, simplesmente a ordem era: pegar o corpo e despejar
na ambulância.
O destino
era uma comunidade rural distante da sede, o motorista pretendia entregar
aquele corpo e descansar, pois, fazia três dias, trabalhando sem parar. Porém
um empecilho surgiu, porque sendo novato na função, quase não conhecia as
pessoas. Logo, não sabia da comunidade que o falecido pertencia. Sabia apenas da
direção da comunidade, isso era suficiente.
Na estrada
para a comunidade começou a indagar as pessoas que encontravam, pois tinha a
ficha do hospital, mas nessa região se conhece mais pelos apelidos. O jeito era
descer do carro, abrir a traseira e mostrar o pobre.
Em certo
caminho, avistou um grupo de jogadores, num campinho de terra, solicitou ajuda
de um deles para reconhecer o corpo e ensinar o trajeto da casa. Sendo
reconhecido, informou-lhe que a família já aguardava, ensinando o trajeto para
percorrer.
Assim seguiu, ao
avistar uma serra, percebeu que logo anoiteceria, decidiu apertar o pé no acelerador
para chegar mais depressa. Subindo e descendo ladeira finalmente avistou um
movimento ao longe. Era a família enlutada, a mulher desesperada, em prantos,
os mais jovens correram para aproximar-se do carro, para tocar no seu ente querido e velar como de
costume naquela redondeza.
O motorista
ao descer, percebeu algo estranho: a porta traseira balançando. Estremeceu na
hora: __cadê o defunto?
Tornou a olhar direito, mas não havia ninguém. O motorista com jeitinho pediu licença e arrancou o carro ladeira abaixo, perguntando
aqui e ali, olhando para fora da janela. Até que alguém gritou numa ribanceira: __está
aqui! O defunto tá emborcado!
Lá estava o pobre coitado ao relento, escorrido ladeira abaixo,
ainda bem que foi detido por um galho de árvore e amortecido pelas folhagens
que havia por ali.
Pegou o defunto, rapidamente com a ajuda dos homens que
estavam ali, roçando, colocando no veículo.
Chegando
novamente na casa, aquela choradeira danada. Mas finalmente, o morto foi
entregue para ser velado e descansar em paz. E o motorista todo sem graça, fez
a despedida e partiu. Ele de tão
assustado que ficou, desistiu da função. Todos da redondeza recordam deste
episódio, para lembrar da dureza que era a assistência para uma pessoa de zona
rural.
Por
Que texto formidável! Adorei, sua narrativa nos possibilita vizualizar tudo. Muito bom!
ResponderExcluirExercitando nossas conversas, nas andanças com o povo.
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