Fotos: Jô Pinto |
“Adquira já o creme que vai deixar sua pele mais jovem, bonita e saudável”. Somos bombardeadas constantemente por anúncios como esses que associam juventude, beleza e saúde. Vivemos numa sociedade onde o processo inevitável do envelhecimento não é bem visto, principalmente quando se trata das mulheres. De forma geral, a nossa sociedade despreza as pessoas idosas, porém quando o marcador geracional se intersecciona ao marcador de gênero, o desprezo se intensifica. Às mulheres não é permitido envelhecer. Uma gigantesca cadeia de indústrias de cosméticos investe em propagandas direcionadas ao público feminino que enfatizam que é preciso nutrir a pele, revitalizá-la, hidratar cabelos, unhas, cotovelos, cutículas e dedicar cuidados intensos e contínuos a cada milímetro do corpo com o intuito de mantê-lo jovem e belo. Porém, a nutrição e hidratação são externas, pois concomitantemente as mulheres devem desnutrir seus corpos, uma vez que corpos muito nutridos também não são bem vistos. Desde a primeira infância, as meninas aprendem que o mais importante para serem aceitas pela sociedade é a aparência física dentro dos padrões estabelecidos de beleza e feminilidade que são associados à magreza, brancura e juventude. Beleza e aparência adequada são estabelecidas como características consideradas imprescindíveis para que a mulher seja aceita. Outro dia li em algum lugar que, enquanto nos meninos são elogiadas características como força, coragem, persistência, nas meninas os elogios são sempre voltados para a beleza, as roupas e os acessórios. Podemos considerar tais “elogios” como uma pedagogia de gênero que através da repetição estabelece aspectos específicos para mulheres e homens. É importante perceber que tais construções estão a serviço do capital. Somos levadas a direcionar nossa energia para a busca de adequação aos padrões sempre inatingíveis de beleza, tal potencial poderia ser utilizado na luta contra o patriarcado, ao mesmo tempo em que consumimos incansavelmente inúmeros produtos e serviços que nos são oferecidos. São tantos os produtos de cosmética voltados para as mulheres, que se fôssemos nos dedicar a estes “cuidados” o dia seria curto para tantas rotinas de beleza, sobraria pouco tempo para o estudo e outras atividades. Naomi Woolf, no livro “O mito da beleza” sugere que a mobilização para o cuidado da beleza é uma forma contemporânea de controle dos corpos e mentes femininas, pois nos desmobiliza ao drenar nossas energias da luta por transformação social, para a busca constante de adequação a padrões de beleza inatingíveis. Podemos mencionar também o crescimento do mercado das cirurgias plásticas que tem como público-alvo principalmente as mulheres de todas as idades. Inclusive, tem crescido assustadoramente o número de adolescentes e jovens que se submetem a cirurgias plásticas com finalidades estéticas, ou seja, para se enquadrar nos padrões de beleza reiterados nas mídias sociais, numa fase em que o corpo jovem ainda está em processo de transformação. O bombardeamento constante que sofremos para nos enquadrar nos padrões de beleza contemporâneos causa angústia, tristeza e aniquilamento da autoestima, principalmente das mais jovens, levando ao adoecimento mental que se materializa em transtornos como bulimia, anorexia, dentre outros. Por fim, convém refletir que toda essa ênfase na necessidade de busca da beleza ecoa no vazio existencial que caracteriza a existência humana, tal falta nunca é preenchida, embora sigamos na busca. Acredito que a filosofia, a literatura e o engajamento em causas coletivas são profícuas formas de buscar preencher nosso vazio existencial. E você, o que faz para nutrir seu ser?
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