domingo, 2 de agosto de 2020

NARRATIVAS DO FESTIVALE - Por Caio Duarte

Caio Duarte nasceu na cidade de Almenara e logo em seguida, com seus pais, foi residir na cidade de Jequitinhonha. Aos 14 anos começou a participar de batucadas que ocorriam na cidade de Jequitinhonha, como “tocador” de surdo, tamborim, caixa, triângulo, etc. Influência esta advinda dos tambores das festas populares como santos reis e boi de janeiro. Com 15 anos foi baterista da banda de baile “Brasil”, no ano de 1977. Aos 17 anos começou a dedilhar o violão e compôs a sua primeira canção, a partir do poema “cadeia velha” do poeta conterrâneo Cláudio Bento.
Já na cidade de Joaíma, em 1980, compõe novas canções ao lado do compositor e poeta Rubens Espíndola, de quem torna-se amigo e frequenta as noitadas do primeiro e segundo Festivale (Julho/(1980/1981), em Itaobim e Pedra Azul, respectivamente, e passa a ser influenciado pelos compositores do Vale do Jequitinhonha como Paulinho Pedra Azul e Rubinho do Vale.
Poeta, compositor, instrumentista, autor de vários livros e belas canções, sendo algumas delas premiadas em Festivais da canção em Minas e outras partes do país.É membro do Coletivo dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha.

 

Em 1979,  vivia eu na cidade de Jequitinhonha desde quando  desembarquei neste mundo  de meu deus, quando de repente caiu nas minhas mãos o famoso cartaz “os procurados “.

Nele havia fotos de Rubinho do Vale, Batuta, ambos artistas da música da cidade de Rubim, entre outras personalidades ligadas à cultura e a outros assuntos naquela ocasião.

O cartaz “os procurados” causou um enorme frisson na minha cabeça  juvenil,  acostumado a conviver com os foliões de santos reis, bois de janeiro e cantadores da cidade de Jequitinhonha (Vide Luiz Preto e Marobá). E a nega de Heraldo.

 Constatei que dali daquele cartaz algo de novo surgia no horizonte agrário e conservador  de nossa região.

No início do ano de 1980  fui assumir meu cargo de mensageiro na agência da Minascaixa, da cidade de Joaíma.

Assim que cheguei lá  alguém me apresentou a Rubens Espíndola, que também era bancário, tocava violão e pertencia a um grupo de teatro local.

Corria o primeiro semestre de 1980, quando tomamos conhecimento de um  evento cultural que veio a ocorrer no mês de julho daquele ano, na cidade de Itaobim. Era a semente dourada do Festivale explodindo no seio da terra.

Rubens Espíndola inscreveu-se no festival da canção,  e ficou entre as  canções classificadas.

De carona embarcamos para Itaobim. Chegando lá não conseguimos vaga nos hotéis e  pensões da cidade, nem tínhamos levado barraca para acamparmos na margem de cá do Rio Jequitinhonha.

Durante o dia com os olhos vidrados assistimos a apresentações de grupos folclóricos e de cantadores, a força da cultura popular do Vale estava ali, com toda a sua magia longeva.

Durante a noite  rolava o festival de música. Jovens de ambos os sexos desfilavam pela cidade, com suas sandálias de couro, vestidos coloridos e batas indianas, a cidade estava linda e o ar que se respirava era bom, saudável, com cheiro e promessa de vida nova no ar.

Numa ocasião daquele final de semana no qual o Festivale nasceu, conheci Chico Rei, compositor e artesão. Na mão dele comprei uma bolsa equivalente a meia tiracolo, de lona com detalhes em couro, na qual eu guardava caneta, cigarros, isqueiro e uma caderneta de anotar sementes de meus primeiros poemas.

Paulinho Pedra Azul foi o ganhador desse primeiro festival da canção, com a música  “Ave Cantadeira”.

Eu e Rubens bebemos pela  primeira vez daquela cachaça boa que é o Festivale  e voltamos para casa embevecidos e convictos de que aquele movimento seria para sempre. E é!

 


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