E com pesar que recebemos a noticia que essa grande mulher, nordestina, guerreira e uma artista impar fez a sua passagem espiritual, escolheu o vale para ser seu lar, nos deixou sua arte imortalizada para essa e futuras gerações, a nós do vale só nos resta dizer muito obrigado por tudo, que nossa Senhora do Rosário a conduza ao braços do pai.
Cabeças, bichos, barulho do toque da madeira, formão na mão, inspiração, hoje a madeira não virará arte, carregará a artista, que em planos maiores outras esculturas escupirá, fazendo da eternidade uma bela e grandiosa galeria de arte com a marca de uma grande mulher
Jô Pinto
Histórico
Nascida no interior de Sergipe, na cidade de Poço Verde, no ano
de 1925, Josefa
Alves Reis, filha de João Alves dos Reis e Josefa Batista dos
Reis, foi criada no sertão da Bahia, driblando a seca. Durante uma delas acabou
indo para Araçuaí, em 1962, onde começou a talhar a sua história. Em Araçuaí, junto com Francisca, sua cunhada e grande amiga, que
trabalhava como doméstica, Josefa foi buscando seu caminho e rompendo na vida
A Zefa artesã não veio de repente, passou cerca de dez anos de
sua caminhada buscando encontrar sua verdadeira vocação que é o artesanato.
Começou com pinturas e obras em barro, na verdade, uma mistura de barro úmido,
farinha de trigo e cinza. Até sua matéria prima era original.
Abandonou o barro, após três breves e criativos anos, por
acreditar que trabalhar com material estava prejudicando sua saúde.
Escolheu então a madeira e esculpiu com traços firmes e
originais a sua obra.
Zefa se tornou mestra, conhecendo e sabendo como poucos explorar
em suas peças as características naturais das madeiras da região. Emburana, cabiúna,
vinhático, cedro, aroeira, braúna preta, jataipeba e outras. O que a natureza
rica do Vale fornecia, ela transformava em arte.
Ela conta que hoje possui peças com colecionadores e amigos na
Alemanha, França, Itália, Áustria, Holanda e nos Estados Unidos. Mesmo sendo
uma das mais premiadas e importantes artistas do Vale do Jequitinhonha, vive de
maneira simples e humilde. Nunca se preocupou em acumular posses. Sempre que
vendia um de seus trabalhos, preferia comprar um bom pedaço de carne e fazer uma
festa com seus vizinhos e amigos.
Desde a morte de Francisca, sete anos atrás, Mestra Zefa quase
não trabalha mais a madeira com formão, facão e machado. Mas ainda orienta seus
discípulos e recebe bem os visitantes, dividindo suas longas histórias e sabedorias
acumuladas ao longo de uma vida.
*Adaptado do texto de João Teixeira Júnior
Fonte:www.ufmg.br/proex/cpinfo/saberesplurais/artista/mestra-zefa/
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