PILÃO
Mulheres de Cabo Verde, utilizando o Pilão |
O pilão tem sua origem árabe, mas foi na
África que ganhou afirmação, chegando ao Brasil no período colonial, trazido
pelos negros. Trata-se de um utensílio
doméstico, de madeira, fixado ou não ao
chão, muito utilizado nas nossas casas, com formatos variados, seja arredondado, quadrado; ao meio
há um espécie de buraco, em que se depositava o alimento ou ingredientes para
ser triturado com ajuda de outro elemento integrador deste artefato: a mão de
pilão; o ato para este movimento pode ser feito com uma ou mais pessoas,
conforme o tamanho deste.
No Vale do Jequitinhonha usa a
expressão normalmente “socar ou pilar”; no movimento sincronizado, quase uma
brincadeira em constituir o ato de bater e levantar a mão de pilão , soando
como uma acústica rítmica na produção de triturar o alimento, como é o caso do
café . Antigamente depois de retirado do pé, secado ao sol, era levado ao
pilão com o propósito de retirar a casca , peneirava e assoprava até
render sacas ou produção expressiva para
aquela casa, no entanto o processo ainda prevalecia, pois tinham de torrar a
semente(levar a semente ao fogo, mexendo para não pegar cheiro) depois de
torrado, o efeito através do cheiro e a fumaça, exalava para o bairro inteiro;
o café era socado, peneirado de forma bem
fininha e colocado em latas com tampas; posso salientar que era
comum o aproveitamento de latas de banha
ou de leite Ninho. Poderia elencar inúmeros trabalhos e receitas como:
descascar arroz, socar o milho pra extrair a farinha de milho, as paçocas de:
amendoim, carne seca, gergelim, bofe, etc.
O folclorista Luiz Câmara
Cascudo, em seu Dicionário do Folclore Brasileiro (1954) relata a predominância
da utilização do pilão:
(...)na África os esparregados
de plantas cruas são feitos no pilão. No Brasil, o milho era seu freguês clássico. A massa ou
xerém para o cuscuz, canjicão, bolo de milho, a batida para ‘tirar o alho’,
eram serviços de pilão. ...O arroz da terra, avermelhado, era descascado no
pilão. Havia várias formas de retirar a casca sem quebrar o grão. O café,
depois de torrado no caco, panela rasa, de barro, ia ser pilado. Como o milho e
a paçoca. Pilavam horas e horas. Essas operações eram confiadas às mulheres.
Quase sempre duas, no mesmo pilão, alternando as pancadas, e cantando.
(...) Na cozinha, os utensílios, como o pilão, tinham
para os negros e indígenas uma importância que o português desapercebeu,
mediante outras maneiras de esmagamento, no almofariz ou gral. Dava um sabor
inesquecível aos alimentos feitos com essa preparação. O café pilado jamais
poderia comparar-se ao café moído à máquina, na opinião popular, saudosa do
pilamento insubstituível. A paçoca exigia o pilão, sob pena de não ser paçoca.
Na África, os esparregados de plantas cruas eram feitos no pilão. No Brasil, o
milho era seu freguês clássico. A massa ou xerém para o cuscuz, a canjica, o
bolo de milho, eram batidos os grãos, para “tirar o olho”, no pilão (LIMA,
1999, p. 50).
Na religião ou na cozinha, o pilão ganhou notoriedade
no Brasil , pois era comum junto ao enxoval
da noiva e os dotes que se ofertava, havia um pilão, muitas vezes confeccionado especialmente para
aquele casal e presenteado a noiva.
Apesar de não estar mais em evidência na sua utilização,
caindo de moda decorrentes as descobertas tecnológicas, facilitou a vida de
muita gente, mas o pilão ganhou elemento agregador, servindo de adorno na decoração de ambientes rústicos e de
requinte.
Na música, o artefato também ficou
registrado na música “Cintura Fina”, de Luis Gonzaga:
Cintura Fina
Minha
morena, venha pra cá,
Pra dançar
xote, se deitar em meu cangote,
E poder
cochilar,
Tu és
mulher pra homem nenhum,
Botar
defeito, e por isso satisfeito,
Com você
eu vou dançar.
Vem cá,
cintura fina, cintura de pilão
Cintura de
menina, vem cá meu coração
Quando eu
abraço essa cintura de pilão,
Fico frio,
arrepiado, quase morro de paixão,
E fecho os
olhos quando sinto o teu calor,
Pois teu
corpo só foi feito pros cochilos do amor.
Por
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