"Todo mês de setembro, após as primeiras chuvas - aquelas que se seguiam às queimadas de agosto - os campos abertos cobriam-se de umas florezinhas miúdas, de coloração roseadas: as cebolinhas-do-campo. Aquelas florezinhas, que nasciam do nada, significavam para mim um sinal da força da terra, da doçura e da paciência do grão. À medida que outras vegetações de maior vulto cresciam as cebolinhas, encobertas por vasta folhagem, despiam-se das suas presenças próprias, encolhiam-se embaixo do chão, esperando a próxima vontade de primavera. Sempre entendi as cebolinhas com as flores da anunciação: depois delas a terra – que antes fora apenas pó - movimentava cheia de vida para todos os lados. A vegetação resplandecia, os pássaros animavam-se em cantoria, as borboletas brincavam perdidas no espaço sem fim; até os besouros rola-bosta e as centopeias exibiam movimentos e quilometragem. As cigarras zuniam seus gritos de esperança por toda cercania do rio das minhas manhãs: tempo de cores, alegria, abundância e fartura.
Os homens empunhavam foices e enxadas e a terra recebia os últimos cuidados para ser emprenhada dos grãos. As mulheres cantavam alegrias, colhiam flores, enfeitavam as casas e os corações. As crianças pulavam cordas, cantavam cantigas de roda, brincavam de pega-pega, de cabra-cega e de apertos de mão.
O gado, no pasto, ficava mais vistoso e no curral o leite era mais farto e sedoso. A vida era mais bonita a partir do mês de setembro, nas redondezas do Rio das Minhas Manhãs.
Foi nesse tempo de florescimento, e nessas circunstâncias de labuta de vida, que eu apoiei os meus pensamentos e as minhas ideias e aprendi a desenhar caminhos e a colorir os meus sonhos. Mesmo em terras de flores sofridas..."
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Texto retirado do facebook do Autor
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