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Foto: Ricardo Barbosa |
Autoridades e convidados
cobraram, em audiência pública, celeridade nas investigações e nas punições em
relação a um atentado contra coordenadores da Escola Família Agrícola de
Jacaré, em Itinga (Vale do Jequitinhonha). O crime ocorreu em 1º de abril de 2013.
A reunião, nesta sexta-feira (11/4/14), no próprio município, foi promovida
pelas Comissões de Direitos Humanos e de Participação Popular da Assembleia
Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Os presidentes das duas comissões,
deputados Durval Ângelo (PT) e André Quintão (PT), respectivamente, estiveram
presentes. A reunião foi solicitada pelo deputado André Quintão e contou com
grande presença da comunidade, de estudantes e membros de escolas agrícolas.
Os coordenadores da
Escola Família Agrícola de Jacaré, Adair da Silva Santos e Noessandro Gonçalves
Freire, que atualmente estão afastados da comunidade, relataram que, na noite
do atentado, às 20h10, um homem de moto e com capacete disparou um tiro de espingarda
contra eles. Ambos estavam no pátio central da instituição e foram atingidos
nas costas, sofrendo perfuração perto da clavícula. Após a tentativa de
homicídio, eles foram incluídos no Programa de Proteção dos Defensores de
Direitos Humanos e também têm sido acompanhados pelo Núcleo de Atendimento a
Vitimas de Crimes Violentos. Atualmente eles se recuperam fisicamente dos
ferimentos.
Para Noessandro, que
trabalha há 13 anos na escola, não há dúvidas de que o crime ocorreu por
motivação política. “Na época, passávamos por um momento de mudança de
representantes do poder público municipal e também da diretoria da associação
que coordena nossa escola”, disse. Segundo o educador, o atentado foi uma
“tentativa de impor nomes” para preencher os cargos que ele e Adair ocupavam.
“A escola é um prato cheio para troca de favores políticos. Querem fazer do
local um espaço para benefícios próprios”, afirmou.
A outra vítima do
atentado, Adair da Silva Santos, também deu o seu depoimento durante a
audiência pública. Ele contou que trabalha há 16 anos na Escola Família
Agrícola de Jacaré. “Acreditamos nesse projeto que dá educação de qualidade aos
filhos dos produtores da agricultura familiar”, pontuou. Segundo ele, o crime
afetou os familiares de alunos, a comunidade, todos os movimentos sociais, a
educação de Minas e do Brasil.
Adair disse, no entanto,
que perdoa as pessoas envolvidas no atentado. Mas ressaltou que está abalado
psicologicamente com o fato. “Fiquei 20 dias sem querer me comunicar com
ninguém. Meu sonho é voltar à escola e rever os alunos, mas não posso por
questão de segurança. É triste”, acrescentou. Ele ainda falou que não consegue
esquecer “o choro dos alunos” e as lembranças do ferimento que teve no momento
do crime. Minutos após sua fala, o educador passou mal e precisou ser levado a
um hospital da cidade.
Coronelismo
- O secretário executivo da Associação Mineira das Escolas Família
Agrícola, Idalino Firmino dos Santos, também pediu uma resposta ao atentado.
“Ainda há no Vale do Jequitinhonha o coronelismo e os grupos políticos que
fazem tudo pelo poder”, criticou. Segundo ele, todos da comunidade sabem quem é
o responsável pelo crime, mas têm medo de falar.
Inquérito
policial foi instaurado cinco meses depois do crime
Noessandro Gonçalves
pediu rapidez na apuração do caso e criticou o fato de o inquérito policial ter
sido instaurado somente cinco meses após o crime, bem como a falta de empenho
da prefeitura no caso. “As autoridades responsáveis não criam meios para solucionar
os fatos. Isso gera revolta”, ressaltou. Ele denunciou, ainda, que a prefeitura
não firmou convênio com a escola agrícola neste ano, também por motivações
políticas. A falta da verba estaria prejudicando o andamento das atividades.
A delegada de Polícia
Civil de Araçuaí, Ana Paula Lamego, é a responsável pelas investigações. Ela
disse que tomou posse há um ano e que assumiu o caso apenas em setembro. “Mas
as investigações já estavam em curso”, afirmou. A delegada contou que, no
começo desta semana, a unidade da Polícia Civil em Itinga, que ficou fechada
por cerca de dois anos, foi reaberta. “Isso vai acelerar a conclusão do caso.
Agora o município terá um reforço efetivo para ajudar na elucidação do crime”,
acredita. Ela apontou o fato de ser uma “investigação complexa”, por se tratar
de tentativa de homicídio, como uma outra justificativa da demora para se obter
uma resposta final sobre o acontecido.
O prefeito de Itinga,
Adhemar Marcos Filho, também respondeu às críticas de Noessandro Gonçalves. Ele
pediu a solução do caso à polícia e disse que também quer saber quem é o
mandante do crime. Disse, ainda, que Prefeitura e Câmara Municipal não negaram
nenhuma assistência. Sobre os convênios, afirmou que já autorizou a Secretaria
Municipal de Educação a realizar o processo. “Não serão nos valores
solicitados, mas vamos fazer, sim, os convênios”, garantiu.
Ele explicou que a demora
para liberação do dinheiro ocorre devido à falta de verba geral da prefeitura.
O deputado Durval Ângelo, entretanto, discordou da posição do prefeito. “O
dinheiro comprometido com a escola vem do Governo Federal, do Fundeb (Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação), portanto, não gera gasto nenhum para o município”, contra-argumentou.
O comandante da 15ª
Região da Polícia Militar em Teófilo Otoni, Aroldo Pinheiro de Araújo,
apresentou três comandantes da PM que passarão a acompanhar as investigações
mais de perto e também intensificarão operações de segurança na região.
Vítimas
do atentado estão privadas do convívio familiar
A coordenadora do Núcleo
de Atendimento às Vítimas de Crimes Violentos e responsável por acompanhar os
coordenadores da escola, Gilmara Tomaz, disse que a falta de esclarecimento do
atentado está privando os educadores do convívio familiar e comunitário. “Os
dois envolvidos são pessoas idôneas e respeitadas pelas famílias dos jovens da
escola”, ressaltou. Ela também cobrou a elucidação dos fatos.
O técnico do Programa de
Proteção dos Defensores de Direitos Humanos, Gildázio Alves dos Santos, disse
que apenas com a conclusão do inquérito será possível avaliar qual o melhor
momento do retorno das duas lideranças à comunidade e à escola. “O programa
está sendo prejudicado pela falta de informação sobre quem é o mandante do
crime”, pontuou.
O consultor do Ministério
do Desenvolvimento Agrário, João Batista Begnani, disse que, no final das
contas, “são as vítimas que estão presas”, pois não podem voltar à escola nem à
comunidade devido à falta de esclarecimento do crime. “O poder público local
está de fato empenhado na solução do caso?”, questionou.
Deputados
pedem justiça
Para o deputado André
Quintão, é preciso humanizar o tratamento às vítimas, pois o que ocorreu foi um
atentado contra vidas humanas. “E é importante que a apuração evolua a partir
desta reunião”, destacou. “É fundamental que a violência não fique impune,
principalmente aquela praticada contra trabalhadores da área de educação, que
prima pela pedagogia da alternância”, continuou. O parlamentar destacou o fato
de as escolas agrícolas serem essenciais para o desenvolvimento profissional
dos jovens. “A Assembleia vai acompanhar, vai atrás e vai querer saber o resultado
do inquérito”, finalizou.
O deputado Durval Ângelo
disse que o crime cometido não foi apenas contra Adair e Noessandro, mas contra
toda a educação do Vale do Jequitinhonha e do Brasil. “A escola onde as vítimas
trabalham é uma referência, reconhecida até internacionalmente”, acrescentou.
“A educação é incompatível com qualquer ato de violência, e o diálogo tem que
ser a base de qualquer processo educativo”, disse o parlamentar, que também é
professor.
Membros da comunidade
onde fica a escola se manifestaram ao final da reunião e também pediram justiça
e mais agilidade na solução do caso. Todos elogiaram a participação dos
coordenadores no desenvolvimento da Escola Família Agrícola de Jacaré.
Disseram, ainda, que estão muito abalados psicologicamente com o acontecido. Em
uma carta dos moradores entregue aos parlamentares, eles disseram que as
vítimas “são pessoas dignas, honestas, que respeitam todos, têm honra,
dedicação, caráter e moral”.
Os deputados afirmaram
que, em breve, farão outra reunião conjunta das comissões, na sede da
Assembleia, em Belo Horizonte. Na ocasião, vão aprovar uma série de
requerimentos com pedidos de providência a autoridades responsáveis não apenas
no Vale do Jequitinhonha, mas também em Belo Horizonte. Disseram ainda que um
dos requerimentos será direcionado ao prefeito de Itinga, com o pedido de
reativação do convênio municipal com a escola agrícola.
Ao final da audiência
pública, os deputados Durval Ângelo e André Quintão e autoridades policiais se
reuniram reservadamente para ouvir pessoas que se dispuseram a falar o que
sabem e sobre suas suspeitas de quem foi mandante do crime.
Matéria extraída do sitio da Assembleia Legislativa de Minas Gerias. - www.almg.gov.br