Dona Maria Cheirosa - Foto: Internet |
Maria das Dores Ribeiro,
entregue por sua mãe, à uma família aos
cinco anos, tem suas tranças decepadas. Dormia numa esteira, e, tinha de andar com lenço na cabeça, que era “pelada” de
tempos em tempos’’. Ali tinha de varrer quintal, passar roupa, cuidar de
criança de colo, cozinhar, buscar água no rio. E ainda não via ruindade, porque
era a sina de toda menina nessa condição.
Depois de certo tempo
começou a fugir, várias vezes, mas era trazida de volta. Aos 12 anos, conseguiu
escapar, foi atrás de sua mãe, que morava numa zona rural
de Araçuaí. Não demorou muito para que o companheiro de sua genitora lhe
fizesse mal no meio do mato. Expulsa de casa, pois sua mãe não acreditou na
filha. Embarcou de carona na “Maria Fumaça” , transporte ferroviário , que a
levou até Teófilo Otoni.
Nesta cidade
perambulava pelas ruas , dormia pelas calçadas e obrigada a se entregar para
qualquer alma, que lhe desse comida. Circulou por botecos e salões, assim conheceu o prazer da
dança e das doenças venéreas aos treze anos .
De volta para
Araçuaí, foi acolhida na rua das mulheres. Um pouco mais crescida, passou a
usar faca, presa várias vezes , por ultrapassar o limite estabelecido pela sociedade do velho Kiau.
Chegou aos vinte anos
como gerente de um bordel, e aos
quarenta, tornara-se proprietária do “Para Todos”. Carregava duas marcas, uma
cicatriz no braço esquerdo, feita por alguém com vidro de garrafa e uma
tatuagem e no braço direito o nome do seu amado, que quando alcoolizado lhe
batia e Maria rebatia.
Também nunca soube
escrever seu próprio nome, mas sabia
somar o dinheiro e fazia bom uso dele para criar seus filhos. Sonhou em entrar
na igreja com seu vestido de noiva, mas
foi barrada pelo Bispo da cidade. Também não pode ver seu filho se formar,
porque foi impedida de entrar no Clube, onde ocorria o evento.
Assim Maria Cheirosa, com seu Cashmere bouquet, vestido de renda, flor no cabelo, sofreu, amou, brigou, teve de ouvir “aqui você não entra”, carregou a marca de tantas MARIAS. __Você é capaz de achar que essa MARIA, foi mulher de vida fácil?
Por
Que história forte! Maria Cheirosa foi para o céu.
ResponderExcluirParabéns pela materia
ResponderExcluirCom essa vivência como pôde ter vida fácil? Uma guerreira essa Maria Cheirosa!
ResponderExcluirFantastica a história e saga de Maria Cheirosa, uma mulher de vida difícil.
ResponderExcluirJá tinha lido parte desse texto que sempre nos comove ao tempo que demonstra a força da superação
Que texto bacana! Parabéns, Angelita! Realmente, as Marias, pretas, pobres desse país nunca tiveram vida fácil, mas, algumas ou milhares de outras Marias recebem uma carga de dores ainda maior. Que dona Maria Cheirosa encontre no plano espiritual o conforto, o amor e respeito que muito lhe foi negado nesse mundo de meu(nosso) Deus!
ResponderExcluirÈ isso pessoal, acho que escrever sobre Maria Cheirosa, foi uma forma de homenageá-la, pensando na sua travessia, que nunca se envergonhou de sua profissão. Viveu intensamente!
ResponderExcluirSó o que importa são as datas de Nascimento casamento obito e filiação
ResponderExcluirParabéns pela matéria Ângela!
ResponderExcluirSérgio do açaí
ExcluirO mundo é cruel com nossas Marias. Que nossa literatura dê a elas, ainda que singelo, tributo. Obrigada,Ângela.
ResponderExcluirAmei o texto e gostei muito de conhecer mais sobre Maria Cheirosa. ❤️
ResponderExcluirPrecisamos conhecer a história antes de julgar. Parabéns Angela pela homenagem e por compartilhar conosco o seu conhecimento!
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