sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

CONHECENDO O JEQUI - O Bicho da Fortaleza "Pedra Azul"


O LOBISOMEM DO JEQUITINHONHA

                                          
Foto: Internet
                                                                                                                                

Um personagem histórico pode se tornar um mito. Mas uma pessoa de carne e osso pode virar assombração? Foi o que aconteceu com o mineiro Joaquim Antunes de Oliveira. Após sua morte, ele foi transformado pela imaginação popular no temível Bicho da Carneira.

Se há um monstro que aterroriza as crianças do Vale do Jequitinhonha e de boa parte das regiões vizinhas, em Minas e na Bahia, é o Bicho da Carneira, também chamado de Bicho da Fortaleza, Bicho de Pedra Azul, Bicho da Rodagem e Lanudo. Esse monstro da mitologia popular assume diferentes formas. A mais frequente é a de um cachorro preto e grande que aparece ao entardecer ou depois que a noite cai. Também é descrito como a figura de um lobisomem ou animal peludo desconhecido na nossa fauna - o Lanudo -, ou um homem sedutor, ou um personagem misterioso que traja capa escura e aparece nas noites sem lua, ou ainda como uma pessoa comum.

O comportamento também varia: o que usa capa realiza operações mágicas e seduz mocinhas; o homem comum é reconhecido pelo apetite fabuloso e pela menção aos familiares; e o animal consome uma quantidade anormal de alimentos, abate bezerros, ataca cachorros, mata e deixa feridos, muitos de uma vez só. E as mães ameaçam as criancinhas com aparições desse monstro se elas não dormirem cedo.

Esse monstro foi um dia Joaquim Antunes de Oliveira, nascido em 1799, no Norte de Minas Gerais, entre os Rios São Francisco e Jequitinhonha. Teve três esposas, Francelina, Bernardina e Manoela, que lhe deram 15 filhos. Viveu na região de São José do Gorutuba, próximo a Janaúba de hoje, área então pertencente ao município de Grão Mogol. Dali se mudou, na década de 1860, para a nascente povoação de Catingas, e depois para Fortaleza, hoje Pedra Azul, onde faleceu no final do século XIX. O genealogista que registra o ano do seu nascimento, Valdivino Pereira Ferreira, também anota o ano em que ele morreu, 1876, mas sua assinatura ainda aparece em livros cartoriais da cidade de Jequitinhonha na década de 1880.

Existe uma explicação para a transformação de Joaquim Antunes em monstro Vejamos: ele foi enterrado no pequeno cemitério de Catingas, que ficava na praça principal do povoado, e foi objeto de disputas políticas que determinaram seu deslocamento, já em 1919, para local mais afastado. Seus restos foram então transferidos para a nova sepultura, que misteriosamente rachou. Além disso, apareceram pelos de animal entre as fendas. A sepultura foi reparada, mas as rachaduras voltaram a surgir mais de uma vez, também misteriosamente. Na mesma época, na Fazenda Gameleira, onde Joaquim vivera, sumiu uma banda de porco. Estava criada a lenda.

Na área rural de Pedra Azul, muitos dos moradores mais velhos já viram o Bicho da Carneira. Em geral, não há interação: é um cão preto que passa ou um homem trajando capote. Mas existem narrativas em que o Bicho aparece criando situações inusitadas. Em Teófilo Otoni e Montes Claros, contam que um homem foi a uma pensão e pediu jantar para várias pessoas. Só que ele comeu toda a comida sozinho e pediu que mandasse a conta para seus parentes da família Antunes. Mas há quem diga que se trata de um golpe para tirar dinheiro de gente supersticiosa.

Já próximo a Estiva (distrito de Jequitinhonha), o "causo" foi diferente: um fazendeiro viu um cão devorando uma rês de madrugada. Em seguida, o animal tomou a forma de Joaquim Antunes, que ele conhecera em vida. Como o fazendeiro estava armado, a assombração não titubeou: perguntou se teria coragem de atirar nele.

Reza a lenda que o monstro assombra a própria família. Em Caraí, na véspera do casamento de um dos Antunes, ouviu-se um barulho vindo da despensa. Era um animal grande, e ninguém teve coragem de abrir a porta. Quando o barulho cessou, tiveram uma surpresa: os bois e os porcos abatidos haviam sido devorados pelo Bicho.

Há outras versões sobre a formação do mito. Uns dizem que Joaquim era muito bonito e que fugiu com aquelas que depois vieram a ser suas esposas, e isso teria criado uma aura mágica em torno dele. Outros dizem que, nos últimos anos de vida, padeceu de uma doença tratada com mercúrio, e por isso seu quarto ficou impregnado de um cheiro muito forte, o que impediu que recebesse os mínimos cuidados: cabelos, barba e unhas deixaram de ser cortados, tornando sua aparência aterrorizante. Também se conta que os pelos na rachadura do túmulo eram de animais entrando e saindo. Mas a história que mais se difundiu foi a de que ele batera em sua mãe, em quem colocou sela e montou. Ela o teria amaldiçoado com esse terrível destino no além-túmulo.

Outra hipótese, mais plausível, aponta para o fato de Joaquim Antunes pertencer a uma família ainda hoje consciente de suas origens hebraicas, a dos Antunes de Oliveira, que se internou nos sertões baianos, ainda no século XVII, para fugir da perseguição da Inquisição. Essa caçada à família Antunes teria sido motivada pela existência, entre os antepassados, de um cristão-novo de ascendência hebraica chamado Heitor Antunes.

Nos anos de 1591 e 1592, quando o Brasil recebeu a visita do inquisidor Heitor de Mendonça, apurou-se que o finado Heitor Antunes, dono de engenho em Matoim, no Recôncavo Baiano, mantinha uma série de costumes judaizantes. Ele viera para o Brasil em 1558, falecendo em 1576. As investigações do inquisidor mostraram que ele chegou a instalar uma sinagoga no seu engenho, e que se dizia sacerdote do rito hebraico e descendente dos Macabeus, dinastia levita que lutou contra a dominação helênica em Israel (século II a.C.) e governou o país até pouco antes da era cristã.

Heitor Antunes havia falecido, mas isso não impediu que sua viúva, Ana Roiz, já bastante idosa, fosse levada para os calabouços do Santo Ofício, em Lisboa, onde morreu pouco tempo depois. Alguns dos filhos e dos netos de Heitor e Ana se mudaram para os sertões, onde a Inquisição era menos atuante, e dos sertões baianos, um ou mais ramos da família passaram à recém-criada capitania de Minas Gerais, ainda no século XVIII, estabelecendo-se na região de Lençóis do Rio Verde, hoje Espinosa, situada na bacia do São Francisco. Dali, alguns foram para a região de Itacambira e Grão Mogol, em busca de ouro e de diamantes, de onde a família se irradiou, ao longo do século XIX, para Piedade, hoje Turmalina, Itinga, Jequitinhonha e Pedra Azul, seguindo, já no século XX, para Medina, Joaíma, Almenara e Jordânia.

Nessa família, até meio século atrás, eram habituais a endogamia, o uso de homônimos e certo comportamento arredio, derivado do estigma de cristão-novo, características incomuns que contribuíram para o surgimento e a propagação da lenda. Os Antunes mais velhos repreendem os mais jovens quando fazem qualquer referência ao Bicho, mas isso não impediu que, em 1989, o músico Heitor de Pedra Azul e seu primo Edmundo Antunes de Almeida organizassem a festa "Antunes recebe Antunes", que tinha o slogan "É isso aí, bicho!" e reuniu muitos descendentes de Joaquim Antunes. O evento deu ensejo ainda à publicação de um livro com informações sobre o Bicho da Carneira e sua árvore genealógica.

A popularidade desse monstro cresceu com o passar do tempo. Seu nome original, Bicho da Carneira, continua sendo o mais utilizado, mas, ao se difundir, o monstro passou a ser denominado Bicho da Fortaleza ou Bicho de Pedra Azul. O termo Lanudo é raramente empregado, e Bicho da Rodagem tem seu uso restrito a Almenara, onde ele surge na estrada que leva a Pedra Azul. Conta-se ainda que o Bicho não aparece em Itinga, apesar do grande número de parentes que tem ali e da realização de uma procissão anual que circunda a cidade, criando um perímetro de proteção. O bairro do Porto Alegre, do outro lado do Rio Jequitinhonha, que foi recentemente unido ao restante da cidade por uma ponte, não conta com esse entorno, estando, portanto, vulnerável às aparições do monstro.

As histórias em torno do Bicho de Pedra Azul demonstram que, apesar de o nosso tempo ser caracterizado pela racionalidade, o imaginário das populações continua criando mitos. Com isso, a tradição popular permanece em constante processo de criação e recriação, pelo menos no Vale do Jequitinhonha, região conhecida por sua notável vitalidade cultural.

Texto: Luís Carlos Mendes Santiago
 Publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional - edição nº 90 - fevereiro de 2012.

*Luís Carlos Mendes Santiago: é filho de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha, um dos mais conceituados historiadores da região. Autor de diversos livros.

por



quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

DIÁRIO DE LEITURA - Entrevista com a escritora Margareth Rafael

Foto: Arquivo da autora

O diário de leitura do blog "Espaço Livre"dedicado a literatura, hoje bate um papo com Margareth das Dores Rafael Moreira Costa, nascida a 24 de Março de1958, em Itinga, MG, foi regente de classe durante toda sua vida profissional. Estudou Contabilidade, Magistério, Pedagogia. Fez Pós-Graduação em Psicopedagogia e Gestão Escolar. Autora de treze livros, entre eles, “Raízes” lançado em 25 de Junho de 2016, na  ALTO - Academia de Letras de Teófilo Otoni/ MG, onde a autora é Membro desde 2015. Já a caminho de novos Projetos, a autora ama escrever sobre a natureza, criança, o tempo, a vida e sobre o amor. Escreve com paixão sobre tudo que a emociona e a rodeia. Vários de seus livros foram lançados na Casa da Cultura de Itambacuri. É Coordenadora do Projeto “Ciranda Poética” em Itambacuri, MG desde 2015. A autora foi homenageada com diplomas e medalhas em concursos literários, várias vezes, na ALTO. Possui múltiplas medalhas referentes a concursos que participou. Desde 2015 colabora com textos ou poemas para a Revista Literária “Café com Letras” para a Academia de Letras, em Teófilo Otoni. Escreveu dois livros infantis, um de autobiografia, um de poemas para ITAMBACURI-MG, um romance americano e os outros são poéticos. Também participou de três Antologias: 1ª Palavra é Arte – Da Cultura Editorial – Barris, Salvador- Bahia - 2ª Antologia dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha, pois a autora nasceu neste vale, em Itinga, MG.  3ª Antologia de Poesia e Prosa – São Paulo.
A autora também é Acadêmica Efetiva Fundadora da AIUC (ACADEMIA INTERNACIONAL DA UNIÃO CULTURAL) no Rio de Janeiro , titular da Cadeira nº 71, tendo como patrono  o escritor Jorge Amado.

Espaço Livre: Poderia nos dizer seu nome?
Margareth Rafael: Margareth das Dores Rafael Moreira Costa
EL: Usa algum pseudônimo?
MR: Não
EL: qual sua naturalidade
MR: Itinga - MG
EL: Reside atualmente onde?
MR: Itambacuri - MG
EL:  Você tem um grande destaque como poetiza, mas você também escreve em outros gêneros literários?
MR: Sim, romances e literatura infantil
EL: De onde vem as inspirações para sua forma impar de escrever?
MR: Minha inspiração e meu gosto pela escrita vem desde a  infância.O desejo de escrever vem pelo amor a Deus, à natureza, ao amor, às crianças e/ou a tudo de belo que me rodeia. Sou apaixonada pela literatura em geral. Sempre gostei de escrever as redações na escola primária, os textos no Ensino Médio.
Sempre gostei de pesquisar nas coleções.  Escrevia diários, cartas. Mais tarde passei a escrever poesias, mesmo sendo apaixonada por poesias desde cedo.
EL: Sendo filha de Itinga e do Vale do Jequitinhonha,  essa efervescência cultural da região tem influencia na sua escrita?
MR: Sim – Muita influência. Amo ser desse vale onde a cultura emerge desde sempre.
EL: Quantos Livros publicados?
MR: 13
EL: Algum especial?
MR: Sim - Raízes - O livro da minha vida
EL: Pertence a alguma Academia de Letras ou algo do gênero?
MR: Sim, ALTO- Academia de Letras de Teófilo-Otoni – MG
AIUC – Academia Internacional da União Cultural – Rio de Janeiro
EL: Em um mundo cada vez mais digital, você acredita que os livros impressos só serão encontrados somente nas bibliotecas futuramente?
MR: Acredito que não. Sempre haverá admiradores dos livros impressos em “casa”.
EL: Qual a importância da literatura para humanidade em sua opinião?
MR: A literatura, humanamente falando, é tudo de bom.
Limpa a nossa mente, purifica o nosso espírito.
Também nos anima a continuar a viver de um modo mais lúdico.
EL: Deixe uma mensagem para os leitores de nosso blog?
MR:, jovens e adultos...Criem o hábito de ler sempre.
É prazeroso, nos faz um bem enorme. A nossa alma agradece e engrandece os nossos pensamentos. Seja um leitor assíduo.
EL: Muito obrigado por este bate papo e continue a nos alegrar com sua poesia.


 Por




quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

OPINIÃO DO BLOG - 10 Anos de Caminhada de Espaço Livre


E se passaram 10 anos, e ainda aqui estamos, usando esse espaço democrático de comunicação para falar de assuntos do meu interesse e que consequentemente agrada também a outros leitores, nosso blog não tem uma linha definida de comunicação, ele é justamente como o nome diz um “Espaço Livre” onde eu tenho a liberdade de abordar os mais variados assuntos dentro uma perspectiva, social, ambiental, cultural e política.
Desde a sua criação optei para que o blog tivesse temáticas diárias para facilitar a comunicação e assim o montamos na seguinte estrutura:
SEGUNDA - FEIRA – MEMÓRIA CULTURAL
Espaço destinado às memórias culturais regional, nacional e Mundial
TERÇA – FEIRA – HUMOR LIVRE
Espaço dedicado ao humor na sua forma mais livre possível
QUARTA - FEIRA – OPINIÃO DO BLOG
Nossa opinião sobre diversos temas
QUINTA - FEIRA - DIÁRIO DE LEITURA
Espaço dedicado a toda forma de expressão literária
SEXTA – FEIRA – CONHECENDO O JEQUI
Espaço dedicado às curiosidades e conhecimentos sobre o Vale do Jequitinhonha.
GIRO PELO VALE
 Publicações em qualquer dia ou horário conforme os acontecimentos da região.
Neste período publicamos mais de trezentas matérias no qual foram vistas por mais de 96 mil pessoas.
O blog conta com a colaboração de Ângela Freire, professora, atriz e técnica em patrimônio cultural, no qual é a responsável pelas matérias do “Memória Cultural”, publicadas as segundas-feiras.
Nosso espaço livre nunca teve e nunca terá a pretensão de ser um grande canal de comunicação jornalística, mas sim um espaço onde possamos de forma, independente e democrática abordar assuntos que sejam pertinentes ao meio em que vivemos e nas suas  mais variadas formas de expressões.
Sejam bem vindos ao nosso Espaço Livre para mais 10 anos.....

Por

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

HUMOR LIVRE - A Marionete da Cultura

Humor livre :

Ex-secretário da Cultura de Bolsonaro foi demitido  pós uma onda de repúdio por causa de um discurso no qual ele fez uso de trechos plagiados de uma fala do antigo ministro da comunicação nazista Joseph Goebbels (1897-1945). 
A charge do cartunista Zé Dassilva, traz de forma bem humorada a sugestão que o ex -secretario de Cultura Alvim, nada mas é do que uma marionete. 


Credito foto: https://www.facebook.com/DepositoDeCartuns







Por










segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

MEMÓRIA CULTURAL - Benzeção


Foto: internet

Utilizando-se da força divina, o benzedor ou rezadeira, são pessoas geralmente  de mais idade,
alguns analfabetos, mas atualmente é possível encontrar em todas as camadas sociais.
A pessoa que assume esta posição numa comunidade é visto como uma pessoa iluminada, pois  a   este   lhe   foi concedida  a   habilidade  e  competência   de   cuidar   das pessoas   doentes, zelando-as  com o poder da oração e dos chás caseiros. Seus ensinamentos são repassados de
pai para filho.
Nas camadas populares e rurais,são conhecidos   de   toda a comunidade.   
Nos saberes populares, todo benzedor ou benzedeira nunca deve renegar seu dom, pois há uma ciência do saber que  benzer é garantir  a harmonia de um povo, que precisa  se voltar para Deus.
Através dos elementos de cura: oração, raminho  ou  simpatia, seja capaz de conectar-se  entre
o céu e a terra, revitalizando o corpo em equilíbrio com a alma

Por 


MEMÓRIA CULTURAL - UM CASO DE AMOR NA ROTA BAHIA-MINAS

  Imagem: Internet   Seu maquinista! Diga lá, O que é que tem nesse lugar (...) Todo mundo é passageiro, Bota fogo seu foguista ...