Entrevista
com o poeta Trabion: o homem que nasceu na roça onde a casa se chama choça
Soll Santos - Quando a
gente encontra o poeta Eronilto Mendes Soares, mais conhecido como Trabion
Mendes, entende rapidamente que ele não é apenas alguém que escreve versos. Ele
vive poesia. Nascido em 22 de janeiro de 1963, em Jacinto, naquele
pedacinho de mundo chamado Vale do Jequitinhonha, ele carrega nas palavras o
cheiro da mata, o canto da passarada e a memória viva de sua gente. Autor de
livros como Contos que Eu Conto (2004), Mágoas de um Lavrador
(2008), Meu Caminhar (2011), Aventuras e Amarguras Culturais
(2019), Minha Terra Tem Costumes (2025) e o cordel Espelho de Bolso
(2013), ele também integra a ANELCA-Academia Nevense de
Letras, Ciências e Artes, desde novembro de 2023, e é
membro imortal da Academia de Letras do Brasil/Minas Gerais/Região
Metropolitana de Belo Horizonte, ocupando a cadeira nº 64.
Entre uma boa prosa, risadas, causos e lembranças,
Trabion conversou com o blog sobre sua trajetória, seu amor pela natureza e a
força da poesia no Vale.
Acompanhe.
“Nasci na roça onde casa se chama
choça…”
Para começar a conversa,
perguntei: “Quem é o poeta Trabion por trás das palavras?”
Ele sorriu antes de responder -aquele sorriso de
quem guarda a infância no bolso:
“Trabion
é esse cara que nasceu lá na roça onde casa se chama choça, onde a passarada
faz a festa, saindo da mata pra cantar em pleno voo acorde de uma seresta. Sou
um cara que leva a vida contando e cantando as coisas do Jequitinhonha.”
Venho de uma família
com muita gente ligada à arte. Alguns sobressaíram, outros não. Em 2001, parei
de beber, eu tinha um histórico complicado com o alcoolismo. Para preencher o
vazio que ficou no peito, comecei a escrever. Eu dizia que eram minhas ‘besteiras’…
depois é que percebi que dava um livro.”
E assim ele já abre a porta de sua poesia.
O dia em que a escrita chegou
para preencher um vazio.
“Para preencher o vazio que ficou dentro do peito,
comecei a escrever. Eu falava que eram minhas besteiras… depois é que percebi
que dava um livro.”
E deu. Vários.
Inspirações que vinham da roça… e
do rádio
Trabion recorda
que: “Tive
muita influência do rádio. Meu pai ouvia muito rádio, minhas irmãs também, e eu
lia muitos livrinhos de bolso, aqueles faroestes, na adolescência. Tive
influência do poeta e escritor Jota Neves (de Mata Verde) e do Eldwin Mendes da
cidade de Rubim.
E as músicas dos anos 80 também: Fagner, Zé
Ramalho, Alceu Valença, Zé Geraldo… músicas que são verdadeiras poesias. Isso
me despertou para o mundo da arte.”
A primeira poesia: “Vida que se
vive”
Ele começou com frases soltas, mas sua primeira poesia
de verdade foi “Vida que se vive”, publicada no primeiro livro, lá em 2004. Ele
recita de cor o início:
“Nasci lá na roça onde casa se chama choça, onde a
passarada faz a festa…”
É impossível não enxergar a cena.
Ainda na boa prosa, pergunto: O
que mudou na escrita?
Quase nada, segundo ele:
“Sempre falei da natureza, da vivência roceira, do
dia a dia. Continuo falando. É meu lugar de pertencimento.”
E talvez seja isso que encanta os leitores: ele
escreve como quem conversa.
Inspiração: Deus, o Vale, a lua
e… a motocicleta
A inspiração não tem hora marcada:
“Às vezes fico dias sem escrever. Às vezes, andando
de moto pela estrada, ela vem de uma vez. Aí tenho que parar, abrir a capanga,
pegar o papel e escrever. Se não, some.” Por isso sempre carrego papel e caneta na
capanga.”
Ele ri ao lembrar que já escreveu poesia no meio de
multidão, em quadras de esporte, sentado em praça. Poeta é bicho vivido.
Os cinco livros e um cordel
Quando pergunto quantos livros ele tem, a resposta
é cheia de afeto:
“Tenho cinco livros e um cordel. E agora lancei Minha
Terra Tem Costumes, que junta muita coisa dos anteriores.”
Para ele, todos são especiais:
“Livro é filho que nasce. Não tem como escolher um
só.”
Mas admite: às vezes lê uma poesia antiga e pensa:
“Fui eu mesmo que escrevi isso?”
São aquelas que brotam do fundo da alma.”
Poesia: válvula de escape para o
mundo
Questiono Trabion sobre a poesia no mundo atual,
especialmente entre os jovens e ele é direto:
“É uma válvula de escape. Um jeito de estar em
harmonia. E os jovens precisam disso: escrever, exercitar o cérebro, se
expressar.”
Da página para a música e para o
palco
Trabion revela que algumas de suas poesias já
viraram música e que escolas já encenaram seus poemas:
“É gratificante demais.”
O que ele espera do leitor
Ele responde com sensibilidade:
“Espero que se identifique com o que escrevo.
Porque escrevo o que eu sinto e também o que muita gente sente e não sabe
dizer.” “É o sentimento de muita gente que
não consegue se expressar.”
O novo projeto: Minha Terra Tem
Costumes
Seu foco atual é o livro recém-lançado:
“É um projeto de dois, três anos. Vou participar de
eventos, ir nas escolas, apresentar o livro. É onde estou agora.”
Prolongo a conversa e questiono que conselho ele daria para quem quer
começar a escrever
Ele cita a Bíblia:
“Ninguém acende uma vela e põe debaixo da cama.”
E completa:
“Coloque
suas ideias no papel. Só assim elas serão vistas.”
“Tudo que fazemos precisa ser mostrado.”
ACADEMIAS E COLETIVOS
O Movimento de
poetas e escritores, aqui do vale do
Jequitinhonha que eu participo e sou membro correspondente da ANELCA- Academia Nevense
de Letras, Ciências e Artes, desde novembro de 2023, e também membro imortal da
Academia brasileira de Letras do Brasil subseção Minas Gerais e região
metropolitana de Belo Horizonte, ocupando a cadeira de nº 64, cujo patrono é Luiz
Gonzaga.
A poesia do Vale: em plena
ascensão
Quando pergunto como ele vê a poesia do Vale, ele
abre um sorriso:
“Cada dia
nasce um poeta, uma poeta. Eu vejo a poesia do Vale em ascensão. E gosto de
incentivar quem está começando.” Já são 20 anos de
carreira.”
E termina deixando uma frase que guarda como lema:
“Caminhar é seguir em frente conquistando cada
palmo desse chão do nosso existir.”
E assim termina nossa entrevista com um poeta que
transforma o dia a dia em verso, lembrança em encanto e vida simples em
literatura.
Por












